Verão 2017: para mais tarde recordar
1 – Não entendo as miúdas de hoje: vi várias a chegar à praia com sandálias de salto alto (daquelas de plataforma em corda), com modelitos muito matchi-matchi (os calções, com os tops, com os óculos de sol e com as bijuterias), muitos sacos de escovas, pentes, cremes e loções para o corpo e para o cabelo. Os biquínis da moda e as poses para as selfies pseudo-sexys, junto à baixa-mar…
2 – Protetores solares em óleo: este ano, eu e Mana Querida caímos na asneira de seguir o conselho de amigas e comprar um protetor solar em ÓLEO: ‘comprem que vão gostar. É óleo SECO. A pele fica mais hidratada e o bronzeado dura mais tempo!’
Sim, eu tenho mais de 40 anos. Ainda sou do tempo em que os únicos protetores solares disponíveis no mercado eram em óleo (com cheiro a coco!), e a malta ficava na toalha a parecer uns refletores e durante todo o dia TUDO de colava ao nosso corpo, a começar pelos quilos de areia.
Como é que um ÓLEO pode ser SECO? Claro… não pode. À segunda esguichadela a embalagem escorregou-me das mãos e percebi que tinha feito uma asneira das grandes. A vantagem foi para a minha sobrinha: ficou muito mais fácil encontrar a mãe ou a tia… era só procurar o ponto mais brilhante e refletor na praia…
3 – Tererés e costureiras: a pseudo-tia, com aquele tom de voz muito afetado, tipo ‘tia de Cascais’ que entrou no espaço da praia (que nem luz elétrica tem) onde está uma rapariguita negra a fazer tranças e tererés nos cabelos das miúdas. Queria convencer a sua Carlota a fazer um tereré e, enquanto esperava, experimentou daqueles vestidos de praia, feitos com tecidos de padrões africanos, e perguntou se tinham lá uma costureira que lhe fizesse uns arranjos no vestido que gostou…
...
Acima de tudo o verão de 2017 ficou marcado pela confirmação de que temos de ser uns para os outros, principalmente em família. Os meus pais sempre estiveram presentes para mim e para a minha irmã. Este verão chegou a nossa vez de abdicar de algo para podermos estar presentes para os meus pais.
A minha mãe adoeceu no final da primeira semana no Algarve. Queixava-se de dores muito fortes, no pescoço e omoplata, que não passavam, nem com medição forte. Depois de idas às urgências no SNS e num clínica particular, uma TAC trouxe o diagnóstico que prometia uma operação à coluna. Decidimos regressar a casa no dia seguinte apesar das lágrimas da minha mãe, não pelas dores, mas porque ‘estraguei-vos as férias…’.
Graças aos céus, os meus pais têm algumas economias que permitiram há minha mãe recorrer aos serviços de um hospital particular e resolver a questão rapidamente (afinal não era preciso operar, já existem procedimentos mais avançados). Este é o país que temos, quem não tem umas poupanças ou um bom seguro de saúde, SOFRE. Não consigo imaginar o tempo que seria preciso para a minha mãe fazer o mesmo tratamento no SNS... e até lá continuaria a tomar morfina para tentar controlar a dor.
Agora já está tudo melhor. A minha mãe já está sem dores.
Eu e Mana Querida ainda temos mais uma semana de férias. Estamos apostadas em fazer da próxima semana uma SEMANA DE GAJAS.
Quanto a ti Sra. Minha Mãe, se o teu sentimento de culpa por nos teres 'estragado as férias' for por demais forte... bem, há sempre a hipotese de, no próximo ano, te redimires e pagares uma semana nas Maldivas para todos.... Pensa nisso com carinho!