Uma estrelinha está a sorrir
Na 3ª feira à noite a minha mãe perguntou-me se tinha notícias do Melga. Disse-lhe que não, desde o Natal que não sabia dele, mas ‘não te preocupes, quando ele precisar, ele dá notícias’.
Mais cedo eu falasse. Na 4ª feira, ao fim da tarde, o Melga ligou-me.
Sem entrar em grandes pormenores (não são aqui chamados), começou com rodeios a dizer que não pode estar na casa onde mora, porque está toda em obras, e que está a morar na casa de um amigo... a casa é pequena, têm 3 gatos e 2 cães, a cama é um bocado desconfortável... blá, blá, blá...
Eu fui ouvindo os queixumes em silêncio, já a antever o que lá vinha.
Como um flash, lembrei-me de uma discussão que o meu Paulo teve com a mãe do Melga, há muitos anos, era o Melga pequenino. A mãe do Melga andava a deixá-lo com uma amiga, porque, lá está, o juiz estipulou os dias que o meu Paulo podia ver o filho e mais do que isso, nem pensar. O meu Paulo, muito revoltado, dizia-lhe ‘o meu filho não tem necessidade de andar de favor na casa deste e daquele. Tem aqui uma casa, um pai e uma avó disponíveis para tomar conta dele.’
O Melga não me pediu, mas eu senti que queria pedir. Resolvi facilitar-lhe a vida e convidei.
O Melga vem viver comigo as próximas duas ou três semanas.
Vai ser difícil para mim? Vai.
Vou ter muitas recordações? Vou.
Vão ser noites mal dormidas? Vão.
…
Mas, algures lá longe no céu tenho a certeza que está uma estrelinha mais descansada e a sorrir…
(Talvez seja disto que esteja a precisar. Ter o Melga lá em casa um tempo para exorcizar de vez estes fantasmas que ainda andam na minha cabeça.)