Trabalhar em open space não é para todos…
… e eu estou a ficar velha para aturar estas modernices.
Eu sei que tenho dias que pareço uma teenager inconsciente, mas acreditem pessoas, eu já tenho alguns anos disto e começa a ser complicado adaptar-me à mudança. Definitivamente, esta coisa de trabalhar em open space não é para mim.
...
Vejam bem, quando comecei a trabalhar aqui na minha chafarica, os postos de trabalho não estavam equipados com computadores portáteis, os chamados PC’s. Trabalha num terminal… para vocês mais jovenzinhas que não conseguem imaginar o que é isso, imaginem uma secretária com um ecrã, do tamanho de um micro-ondas, e um teclado (que fazia pipipipi em cada tecla que se carregava). Não havia cá torres ou ratos… Não tinha o word… tinha o processador de texto do AS400, um ecrã preto com letras verdes… só para terem uma ideia, para escrever o carater º, tinha que carregar em 4 (QUATRO) teclas ao mesmo tempo (já não me lembro quais).
Também não havia e-mail. Tínhamos o Sr. Alves. As comunicações de trabalho entre colegas eram feitas por ‘Nota Interna’, escritas no AS400, impressas, assinadas, colocadas num envelope de furos, onde escrevíamos o destinatário, depositadas na entrada de cada andar e o Sr. Alves (o nosso motorista) encarregava-se de ir entregar aos colegas e trazer eventuais comunicações dos outros para nós.
E quando os colegas das estatísticas precisavam de imprimir os mapas anuais para verificação de erros??? Tínhamos umas impressoras de agulhas, monstruosas, que faziam uma chinfrineira infernal. Estavam fechadas numa espécie de marquise, numa tentativa de não enlouquecermos com o charriscar… dias a fio a ouvir aquilo.
Ainda me lembro do primeiro computador com acesso à Internet que foi instalado no andar da Direção. Tinha uma caixinha acoplada, UM MODEM. Utilizado com muita parcimónia, talvez porque parecia que ia explodir cada vez que era ligado…parecia que estávamos a fazer uma ligação à lua!
...
Isto tudo para vos contar que já vi a minha parte de alterações de rotinas e hábitos de trabalho, mas nada me afetou mais do que a mudança para um edifício em OPEN SPACE. Não sei se sentem o mesmo, mas para mim, trabalhar num open space é pior que trabalhar nua, porque além da nossa nudez, temos que levar com a nudez dos outros.
Os primeiros dois anos foram muito complicados. Como em qualquer situação nova, caímos facilmente no exagero.
Estávamos todos muito preocupados com o barulho: ‘Não devemos fazer barulho, não devemos incomodar o colega do lado, blá, blá, blá’… Chegámos a um ponto em que parecia que estávamos num convento, não se ouvia uma mosca, andávamos todos a sussurrar pelos corredores. Tínhamos colegas que só faltava exigir que se andasse com os pés à cabeça ‘esses saltos fazem muito barulho neste chão’, não pode ser… e a embirração com os toques dos telefones?
Agora já vamos estando habituados e já conseguimos um equilíbrio… fomos aprendendo com os nossos erros e acabámos por nos adaptar (que remédio!), mas ainda há muita coisa a que não consigo habituar-me: como ter conversas nos recursos humanos, sobre os meus descontos ou as minhas faltas, num espaço com pouca ou nenhuma privacidade; como discutir a fixação de objetivos pessoais e avaliações de desempenho quase a sussurrar e mesmo assim, saber que os colegas ouvem, pela simples razão de não serem surdos…
… e claro, os colegas que trazem CARIL para o almoço, mesmo sabendo que a sala de refeições agora não fica no último andar, isolada (como no edifício velho), agora fica mesmo ao lado dos espaços de trabalho…ou aquela colega que gostava de cortar/pintar as unhas na hora do almoço... ou ter o azar de ter a casa de banho mesmo perto da secretária e ter de ouvir coisas demais.... coisas que não deviam ser audíveis ...
A sério, pessoas, começa a faltar a paciência e a capacidade de adaptação!