Também eu vou falar do jogo de Portugal
O que percebo de futebol é que são duas equipas e ganha a que marcar mais golos na baliza da equipa adversária PONTO.
Já o meu Paulo era o oposto. Benfiquista até à medula óssea, vivia o campeonato ao segundo (aliás, OS campeonatos: o português, o inglês, o espanhol, o italiano). Às vezes eu queria sair e ele ficava parado a olhar para mim e eu percebia logo:
Paulo - Ohhh morzinho! Hoje à tarde joga o XXX contra o YYY. É um ganda jogão!
Eu - Nem que fosse o ‘Mija na Escada’ contra ‘Alguidares de Baixo’, para ti é sempre um jogão.
Paulo - Não sejas engraçadinha!
Eu saía com a minha irmã, ele ficava a ver o jogão e tudo se resolvia.
Vocês ainda não sabem, mas eu vou-vos contar: o meu Paulo via televisão sentado na varanda da sala (era preciso chover picaretas para ele não estar na varanda). Era daqueles que prendia nas janelas bandeiras/cachecóis do Benfica ou de Portugal durante os campeonatos.
Se o Benfica ganhava (ou Portugal) o meu Paulo gritava a plenos pulmões naquela varanda e o gato saía espavorido pela casa fora com o susto:
- Gato! Tu não és do Benfica, animal!
Se o Benfica perdia:
- Cambada de coxos! Se fosse comigo, no fim do jogo, iam subir e descer as bancadas do estádio 10 vezes!
Vou-vos poupar aos nomes que ele chamava ao JJ, nesses dias.
Resumindo, em dias de jogo havia sempre tourada na minha casa.
Por isso, neste sábado, quando Portugal marcou o golo da vitória naqueles minutos finais do jogo, ouvi a festa na rua e dei-me conta do silêncio na minha casa.
Lá fora havia festa e em minha casa eu chorava, porque mais uma vez dei-me conta da saudade que tenho do meu querido Paulo.
Desde que ele partiu o Benfica foi campeão duas vezes e Portugal está nos quartos-de-final do Campeonato da Europa e o meu querido Paulo não está cá para ver.
E a velha pergunta voltou para me assombrar: Porquê?