Quando eu e o meu Paulo comprámos a nossa casa, tínhamos muitas ideias sobre o que queríamos ou gostávamos de ter em termos de espaço e comodidades. Uma das coisas que queríamos mesmo ter era um bichinho destes:
Vermelho, pequenino… tão lindinho!
A casa tinha cozinha equipada. Tinha um frigorífico encastrado, mas nós já sabíamos que os congeladores dos frigoríficos encastrados são, por norma, muito pequenos, ia ser pouco para as nossas necessidades, eramos três pessoas em casa, fazíamos compras de talho e peixaria para o mês todo e, além disso, nós queríamos taaannto um vermelhinho destes…
Um dia, estávamos na InterCasa, na FIL, e passamos por um stand de uma loja de eletrodomésticos que tinha em exposição a linha completa destes eletrodomésticos. Perguntámos o preço do frigorífico… estavam a fazer preço de feira… uns 300€ abaixo daquilo que me pediram numa loja no Barreiro… não pensámos duas vezes!
Pedimos ao construtor que substituísse o frigorífico de encastrar por uma arca congeladora vertical de encastrar… et voilá, ficámos com o nosso vermelhinho e com a questão do espaço de congelação resolvida.
A arca andava a precisar de ser descongelada. Ontem de manhã, depois de voltar a lutar com as gavetas, lá me convenci a tratar do assunto…
Depois de limpa, decidi não voltar a ligar…
Já há algum tempo que andava a pensar que era um desperdício de energia ter uma arca congeladora de 6 gavetas ligada… para apenas uma pessoa. Acho que já estou naquela fase em que defini as minhas rotinas. Já não faço compras 'ao mês', agora é 'semana a semana', por isso, acho que o mini-congelador do meu vermelhinho é suficiente para mim.
Ontem dei mais um passo nesta minha mudança da ‘nossa casa’, para a ‘minha casa’.
Ao longo do tempo vamos mudando de gostos, é normal… é natural, por isso, pessoas queridas:
Souvenirs de férias desatualizados, para os quais nunca olhamos;
Meus queridos e queridas, não é que eu seja rapariga muito viajada, mas não me passaria pela cabeça trazer sombreros se fosse a Cancun ou tamanquinhas de madeira se passasse por Amsterdão, ok? Além de milhares de fotografias e vídeos que vão ficar a entupir o computador, no máximo, assim mesmo, no limite, a malta trás um pin para colar no frigorífico ou uma t-shirt com um escrito engraçado que depois usamos quando se anda a limpar a casa, e pronto, chega…
Troféus antigos a que já não damos importância;
Já me é difícil entender por que carga de água está em exposição o troféu de campeã nacional de badmington, de 1982, ou o troféu das olimpíadas da matemática, de 1991, mas as medalhas dos saraus de ginástica lá na coletividade da vossa terra estão guardadas, porquê?
Peças decorativas da casa que já não se adaptam à nossa personalidade;
Presentes de que nunca gostámos.
Se não gostam, então não guardem o cão de loiça que a tia Etelvina vos ofereceu no casamento ou a bomboneira de cristal que a avó Miquelina achou por bem oferecer no vosso 13º aniversário e que, para mal dos vossos pecados, não apodreceu na 'arca do enxoval’. Nesta categoria entram também os paninhos de tabuleiro e os paninhos do cesto do pão. Das duas uma, ou foram bordados pelas mãos extremosas da vossa avó, por quem vocês têm muito carinho, ou então, se não usam, porque é que estão a encher as gavetas?
É a nossa casa, o nosso espaço… a vida é curta demais para estarmos rodeados de coisas de que não gostamos!
Já que referi essa verdadeira instituição que existia em tantas casas de vizinhas da minha idade, denominada por ‘ARCA DO ENXOVAL', quero aproveitar para deixar expresso um profundo e penhorado agradecimento à Sra. Minha Mãe e a todas as minhas tias por nunca terem sofrido desta febre e nunca terem investido um cêntimo que fosse na triste ideia de comprar COISAS, para 20 anos depois, equipar as futuras casas das suas filhas.
OBRIGADA! OBRIGADA! OBRIGADA!
Acreditem pessoas, até hoje tenho arrepios quando vejo caixas de copos Cristal D’Arques. Tanta vizinha da minha idade que, durante anos, em chegando o Natal já sabiam que iam receber mais uns quantos copos para completar o serviço (vinho branco, vinho tinto, água, champanhe, licor, whisky, tudo aos 12 de cada, claro, e respetivas garrafas para licores e bebidas espirituosas!!!) Também vi tachos e panelas de pressão, pequenos eletrodomésticos, já para não falar nos famigerados e ultra-modernos conjuntos completos de tupperwares e nas colchas e toalhas de renda e linho e nos panos de cozinha com biquinhos de crochet... Tudo do mais bonito que podia haver... quando tinhamos 15 anos...
Acreditem, a cozinha/despensa pode ser um dos maiores antros de acumulação de tralha.
Foi quando destralhei a minha cozinha que mais vezes fiz figura de 'burrinha de carga', nas várias viagens para o ecoponto da minha rua. Vejam só o disparate:
Produtos alimentares que não se comeram, alimentos com data de validade expirada e temperos não utilizados ou antigos
É muito feio desperdiçar comida, eu sei... mas ainda é mais feio ter coisas em avançado estado de decomposição no frigorífico ou despensa, ok? Também descobri saquinhos de especiarias... cobertos de pó… bem pesado não sei se tinham mais pó ou mais especiaria!
Manuais de instruções de eletrodomésticos que já não temos
Neste capítulo, acho que me entusiasmei um bocadinho, troquei as mãos e... deitei fora o manual de instruções da minha máquina de lavar roupa… Seja o que Deus quiser!
Louça ou utensílios de cozinha que não utilizamos
Tipo aquele ralador manual que em 16 anos NUNCA FOI UTILIZADO (existem picadoras, não é?) ou aqueles copos mais antigos, ao estilo 'um de cada nação' ou aquelas tacinhas de vidro que não sabemos exatamente como é que foram parar lá a casa ou a coleção de frasquinhos com tampa que podem ser precisos para qualquer coisa... tudo a atafulhar os armários!
Pequenos eletrodomésticos que foram moda, mas não utilizamos
Tostadeira, máquina para fazer gelados ou iogurtes, fritadeira, espremedor de citrinos, faca eletrica (não sei do motor da minha à anos, mas a serrilha estava muito bem guardada na gaveta dos talheres, claro!) para não falar no flagelo de anos mais recentes, que atende pelo nome francês (chique!) de FONDUE... tenho um para a carne e outro para derreter chocolate...
Receitas desnecessárias
Mandei para o papelão um conjunto de livros de culinária que nunca utilizei! Nos dias que correm, se uma dona de casa prestimosa quiser uma receita nova de frango ou salmão, faz o quê, pessoas? Googla, não é?
Caixas de plástico, velhas, engorduradas, sem tampa, tortas
Frigideiras já sem o revestimento anti-aderente que estão lá no fundo do armário porque, entretanto, fomos comprando novas...
Cristo! O que não falta são lojas do chinês a vender caixas de plástico, bonitinhas, por tuta e meia. Aliás, estou a adotar o sistema de só usar caixas de plástico para as minhas marmitas, porque ando de transportes públicos e as caixas de plástico são mais leves. Em casa, progressivamente, vou passar a utilizar só caixas de vidro, porque nunca se põem feias.
...
Não pensem que fiquei com a cozinha vazia. Muito longe disso. Fiz uma grande 'limpeza', mas ainda tenho os móveis a abarrotar de loiça. Agora que terminei, posso concluir que deitei fora o que era descartável e coisas que nunca utilizei e que dificilmente vou utilizar.
Ainda tenho muita loiça guardada. O problema é que olho para um prato, uma travessa, uma caneca e lembro-me do meu Paulo... 'isto comprámos naquele passeio a Marvão, isto comprámos quando fomos à Lousã... isto comprámos em Sines' e, apesar de não utilizar, de não ter expectativa de vir a utilizar tão cedo, não sou capaz de me desfazer delas...
Ajudou-me muito tirar tudo dos móveis, fazer uma escolha e voltar a guardar, porque agora abro a porta do móvel dos pratos e a disposição da loiça já não é a mesma... deixou de ser a nossa cozinha e passou a ser a minha cozinha, mais adaptada às minhas novas necessidades. De tal forma que já tenho vontade de ir para a cozinha fazer as minhas marmitas para a semana, agora já não tenho que tropeçar nas frigideiras grandes (para 3 pessoas), agora só tenho duas frigideiras pequenas (para 1 pessoa).
Roupa/calçado que já não serve ou que já não vestimos/calçamos há pelo menos 2 estações;
A sério pessoas, se já não se lembram da última vez que vestiram aquelas calças às flores ou já não calçam aquelas botas há pelo menos DOIS invernos, então não vão vestir/ calçar nunca mais, não adianta! Tanta gente a precisar. Ponham nos contentores verdes, entreguem na Santa Casa ou na igreja da vossa paróquia.
Pratiquem a caridade… libertam espaço em casa e ficam de consciência tranquila.
Peúgas com buracos, collants com malhas, cuecas com elásticos de fora;
Camisolas e calças que gostamos muito porque são muito confortáveis, mas já estão manchadas, ‘pingonas’ e desbotadas;
Ah, e tal é só para ‘andar por casa’ ou para dormir!
Minhas queridas, o que não falta por aí são lojas do chinês onde se consegue comprar coisinhas mais arranjadinhas e baratinhas para ‘andar por casa’. Lembrem-se, nunca se sabe quando é que um príncipe encantado nos vai bater à porta para ler o contador da luz ou vender o pacote da TV cabo… e se o jeitoso do 5º esq. precisar de uma chávena de açúcar e vos bater à porta? Já viram a figurinha que vão fazer!
Toalhas e tapetes da casa de banho, toalhas de mesa e panos de cozinha, individuais (haverá objeto mais inútil do que um individual!!!) já desbotados de tanto uso (ou que simplesmente, não usamos) ou cheios de nódoas que não saem nem à força de bala;
Vou contar um segredo, tudo o que seja feito de tecido – mas mesmo TUDO -, se não está em condições de ser usado e não têm a quem dar, ponham num saco, fechem o saco e entreguem na H&M, recebem um vale de 5€ por cada saco de roupa que entreguem para a reciclagem. Não tem que ser roupa de vestir, nem se quer da marca deles. Eles nem olham. Aceitam o saco e põe no contentor. O objetivo é reciclar.
O vale pode ser utilizado em compras superiores a 30€.
Todas nós temos as nossas caixinhas na mesa-de-cabeceira ou em cima da cómoda do nosso quarto, não é? Aquelas caixinhas cheias de coisinhas que são absolutamente essenciais para a nossa sobrevivência… ou não!
Pois é, meninas, nós, as comuns mortais, vamos comprando bijuterias baratinhas e depois, claro… de repente o que era dourado já passou a castanho e o que era prateado passou a ser preto. Ora, vamos lá ver… se não as usamos porque estão feias, então porque continuamos a lutar com elas todas as manhãs, enquanto procuramos os brincos novos? Porque é que ainda estão na caixa??? Juntei um saco disto… como é possível?
E o móvel da casa de banho? Esse verdadeiro ‘poço sem fundo’! No meu encontrei preciosidades deste calibre:
Amostras de produtos de beleza que nos dão nas perfumarias ou que vêm junto com revistas, que não se adequam ao nosso tipo de pele ou cabelo;
Frascos meio cheios de cremes para o corpo e rosto que prometiam ser maravilhosos e no fim não valiam nada;
Frascos de perfume apenas com umas gotinhas no fundo;
Pessoas, por muito bonito que o frasco seja, era muito mais bonito quando tinha líquido cheirosinho lá dentro, ok! Por muito bonito que o frasco seja, não é uma nascente de perfume... se já não deita cheirinho bom, então cumpriu a sua função neste mundo, paz à sua alma!
No meu caso não se aplica, porque não uso, mas acredito que pode ser o vosso caso, as várias embalagens de maquilhagem antiga.
Ainda dentro do acessórios de moda temos a categoria das:
Malas muito fora de moda
Tive uma mala guardada no roupeiro durante anos (ANOS!)… ‘porque é tão linda e eu gosto tanto dela’. Foi tão usada que as alças começaram a desfazer-se… além de ter o rouperio ocupado, cada vez que lhe mexia deixava lixo por todo o lado, que tinha que limpar… CRISTO!
Abram um saco do lixo, no chão do quarto, e avancem sem medos!
Foi difícil começar, mas depois de muita luta interior, compreendi que não estava a apagar o passado, simplesmente estou a adaptar aquela casa à realidade atual: já foi uma casa de família… hoje é uma casa onde só moro eu.
São três quartos, sala, cozinha e duas casas de banho para eu, SOZINHA, manter limpos e arrumados. Por isso, a ideia geral é SIMPLIFICAR. Quanto mais prático e desobstruído estiver o espaço, mais fácil é manter tudo organizado (não sou uma maníaca das limpezas, mas gosto de ver um espaço arrumado e apresentável e, mais do que isso, gosto de ser eu a arrumar a minha casa).
Comecei pelos roupeiros e armários da casa de banho, já vendi / doei alguma mobília e, esta semana, estou a atacar, sem dó nem piedade, os armários da cozinha.
Estou a gostar tanto disto que até comecei a ler artigos sobre este tema (o decluttering). Até já encontrei sites com formação sobre isto (ainda me vou meter num curso sobre destralhanço…).
Diz Mana Querida que descobri um dom e que tenho que fazer o mesmo na casa dela.
Às vezes tenho medo de estar a ir longe demais e mais cedo ou mais tarde arrepender-me de alguns gestos, no meio de tanta tralha encontro muitas coisas que eram do Paulo, que representam os gostos do Paulo, e essas são sempre as mais difícies de decidir o que fazer. Adotei uma regra de princípio: se só representam o Paulo (os seus gostos, interesses), então sai, se representam o Paulo enquanto pai ou nós dois, enquanto casal, então fica.
Nas minhas viagens pela net encontrei listas de tarefas para iniciados no destralhanço… e acho que estou no caminho certo!
Em resumo, destralhar é
deitar fora tudo o que nos esquecemos que já tivemos e que nunca nos fez falta.
Regularmente vou deixar aqui algumas regras básicas (se assim lhe posso chamar) deste mundo maravilhoso do 'não deixar acumular tralha' nas nossas casas.
Hoje começo com estas muito simples:
Coisas que estão na nossa gaveta de lixo para sempre
Todos nós temos uma gaveta destas, normalmente na cozinha!
No meu caso são armários estreitos que ficam no canto da cozinha. Cristo do céu o que eu lá encontrei! Garrafas de vinho que já não me lembrava que existiam (corri o risco de provar... e afinal já era vinagre!), declarações de IRS do tempo da Maria Cachucha, brochuras de apresentação da urbanização onde comprámos casa, decorações de Natal antigas misturadas com ferramentas (que nunca soubemos utilizar!) e um número exorbitante de sacos das compras, de plástico e de papel!
A confusão que normalmente vive no fundo das nossas malas
Das nossas várias malas. Normalmente trocamos de mala, mas há sempre pequenas coisinhas vão ficando no fundo (a caneta, a chapinha do carrinho de compras do supermercado, o lenço de papel, o brinquedo do miúdo...).