Já por aqui disse... sou uma barreirense, com muito orgulho.
Defendo a minha terra. Não a troco por nenhum outro sítio... a menos que pudesse morar em Lisboa, mas tinha que ser Lisboa cidade (e mesmo assim só em algumas partes da cidade e só mesmo porque trabalho em Lisboa)... nunca nos arredores da margem norte... se é para ser uma suburbana da linha de Sintra ou de Cascais, então prefiro mil vezes ser suburbana do Barreiro.
Todos os concelhos da margem sul e acho que também da margem norte de Lisboa, dependem de empresas privadas de transporte rodoviário de passageiros. Resultado... horários muito reduzidos e, até há bem pouco tempo, passes mais caros.
Há SESSENTA ANOS que a Câmara do Barreiro disponibiliza aos seus munícipes o Serviço Municipalizado dos Transportes Coletivos do Barreiro. Todo o concelho está coberto por uma rede de transporte coletivo, que funciona todos os dias, desde manhã bem cedo, até de madrugada.
Esta é uma das razões que me leva a não pensar viver noutro lado. Quando digo aos meus colegas que no Barreiro temos um serviço camarário de transporte público de passageiros que funciona nos moldes da Carris, ficam surpreendidos. Não conhecem mais nenhuma Câmara que o faça (só há um punhado de Câmaras a fazer isto em todo o país).
Sim, os autocarros estão muito velhos (alguns têm mais de 25 anos).
Sim, nem sempre se cumprem todos os horários.
Sim, o corpo de motoristas está velho, são poucas as caras novas que chegam. Para mim são uns hérois, trabalhar de madrugada, de noite, aos fins de semana e feriados, aturar aqueles passageiros que se acham donos do mundo e chegar ao fim do mês 'toma lá 700€'... não é para todos.
Ontem, assim que se soube do acidente, fiz aquilo que todos fazem, nestas alturas... fui ao FB... e lá estavam as bocas foleiras do costume... 'os autocarros estão velhos'... 'os motoristas são uns incompetentes'...
Tenham juízo pessoas!
Aprendam a defender o que temos de melhor na nossa casa, mesmo que tenha defeitos!
É só começar o cheirinho a eleições e o Barreiro (e a Margem Sul) começa a aparecer nas parangonas dos jornais. Passam as eleições e todos se esquecem … das promessas, dos projetos, dos planos… é uma sina triste desta terra.
Pelo menos desta vez temos um Presidente de Câmara menos megalómano, não anda a reivindicar uma ponte para Lisboa. Fala SÓ na necessidade de uma ponte para o Seixal (400 metros de tabuleiro) e agora fala numa ponte para o Montijo (1 Km de tabuleiro), para aproveitar as sinergias do novo aeroporto (ainda não tenho opinião sobre a localização do aeroporto, não me vou pronunciar).
Este é o grande problema da Margem Sul, mas sobretudo do Barreiro, falta de acessibilidade. Vejam bem… o Barreiro não está só a 20 MINUTOS de barco da BAIXA de Lisboa, está também a 1Km dos acessos diretos à ponte Vasco da Gama e a 400 metros do Seixal e dos acessos à Ponte 25 de Abril…
…então porque é que continuamos a ter que fazer 14 QUILÓMETROS, todos os dias, para sair e entrar na cidade???
Pensem bem… é como se o pessoal que mora no Cacém tivesse que dar a volta pelo Fórum Sintra para conseguir entrar no IC19 ou a malta que mora em São João do Estoril que quer vir a Lisboa, pela Marginal, ser obrigada a dar a volta por Cascais…Por isso é que o Barreiro é ‘MUITA LONGE’… temos Lisboa à nossa frente, mas temos que andar 7 Km para trás, até Coina, para entrar nos acessos a Lisboa!
...
Vai ser um ano de muitas notícias espetaculares, muitos desenhos e mapas e o catano… o povo do Barreiro já sabe que é assim, está habituado a ser o fantoche de serviço nestas coisas das politiquices, vai ser um ano de festa e depois voltamos a sossegar.
Há muito que o barreirense se tornou num fiel seguidor de S. Tomé… ‘ver para crer’.
A azul e cinzento, o que temos. A vermelho, uma ideia do que gostávamos de ter.
Eu sei que são dois tracinhos que custam muito dinheiro, mas a sua concretização ia revolucionar, para melhor, a vida de tanta gente... não só no Barreiro, em toda a Margem Sul.
... que na minha terra se fazem coisas bem bonitas?
Ora vejam lá mais uma:
É do artista Vhils.
É o seu maior mural até à data e está a decorar a nova Alameda construida em pleno Parque Industrial, que liga o centro do Barreiro à freguesia do Lavradio.
Foi uma obra muito polémica porque foi preciso destruir alguns edificios emblemáticos da história do Barreiro (nomeadamente o edifício do Posto Médico da CUF, que ainda frequentei), mas era uma obra necessária para melhorar a circulação dentro da cidade, entre as suas freguesias.
É importante preservar a nossa história, mas não podemos ficar presos ao passado, principalmente se esse passado estiver em ruinas.
As imagens retirei da página no FB do autor, bem como o texto que as acompanha, que partilho aqui convosco:
“Na semana passada, uma das peças que me deram o maior prazer de criar foi revelada ao público. Este vasto mural no Barreiro, anteriormente um dos principais centros industriais de Portugal, fala da identidade e da contribuição dos seus trabalhadores para a história e o desenvolvimento da região. Com base em imagens antigas de trabalhadores fabris, pessoas locais, paisagens e arquitetura, a composição procura refletir em vários momentos desta história, contemplando também o futuro e a sua sustentabilidade.
A nível pessoal, sinto-me grato e feliz por ter a oportunidade de voltar a produzir uma peça na margem sul, em frente a Lisboa, de onde também venho e de que sempre me senti muito orgulhoso. Apesar de ter sido sempre encarado com um nível de estigma, é hoje em dia que temos de reconhecer o valor destes territórios periféricos situados em ambos os lados do Rio Tejo, bem como avaliar a contribuição que tanto os seus municípios como as suas comunidades tiveram. Sobre o desenvolvimento da cultura, as artes, a música, a ciência, a política, a cidadania, a diversidade cultural e o progresso global do próprio país. É importante mudar as perceções e destacar a relevância legítima de lugares como o barreiro.
É tempo de olhar para o nosso povo e sentir orgulho da nossa identidade, da nossa cultura. Este é o momento para brilhar uma luz sobre o que foi ignorado, para valorizar o nosso património, enquanto prezamos os desafios do presente, a fim de melhor desenvolver o futuro. Uma das razões que me levou a estabelecer o meu estúdio no Barreiro diz respeito ao meu desejo de contribuir para esta nova onda de desenvolvimento cultural que pode ser visto aqui hoje, tão importante para ajudar o povo local a permanecer e não ser forçado a procurar outras oportunidades em outro lugar, longe das suas raízes. Temos de promover o diálogo com a nova geração de artistas, músicos, agentes culturais, empresários, trabalhadores e todos aqueles que podem contribuir positivamente para a apreciação do que foi negligenciado, a fim de conduzir todos os municípios e todas as gerações a avançar. No essencial, é necessário tornar visível o que tem sido invisível, tal como estes retratos e estas paisagens que foram reveladas quando nós esta vasta muralha.”
Sou utente dos barcos da Soflusa (empresa de transporte público que assegura a travessia do Tejo entre o Barreiro e Lisboa, antigamente CP) desde que me entendo por gente. Comecei a ser utente diária quando entrei para a Universidade em 1990.
Desesperei nos barcos antigos, nos bancos de pau, que levavam, meia hora a fazer a travessia e ao fim do dia levávamos com o cheiro da comida que os tripulantes faziam para jantar, em cozinhas improvisadas nas proas dos barcos. Assustei-me com uns barcos que apareceram mais tarde (um deles era o ‘Tunes’), verdadeiras ratoeiras que à hora de ponta saiam do Barreiro com alguns 1000 passageiros a bordo e que ficavam inclinados no cais em Lisboa e as portas não abriam e ninguém conseguia sair do barco e agora desespero nos catamarãs com umas nesguinhas a que ousam chamar janelas porque era suposto terem ar condicionado… ter têm, mas nunca é posto a funcionar. Também era suposto fazerem a travessia em 20 minutos, mas como é preciso poupar combustível, reduzem a velocidade e levamos a mesma meia hora de antigamente.
Ora, mais uma vez a Soflusa está sem barcos suficientes para assegurar todas as carreiras (não me perguntem porquê, não me interessa o porquê, não quero saber de justificações). Esta semana tem sido uma ‘tourada’ conseguir apanhar um barco para Lisboa e de volta a casa.
Numa conferência de imprensa, que teve lugar em LISBOA, uma Administradora da Soflusa veio pedir aos passageiros que evitem fazer travessias nos barcos da Soflusa, entre as oito e as nove horas da manhã… para não se acumularem tantos passageiros nas estações.
Desculpe, como disse?
…
Cara Sra. Administradora,
tendo em conta que a conferência de imprensa foi em LISBOA, quer-me parecer que a Sra. Administradora não é uma utente regular dos transportes que administra, nem conhece, de todo, a realidade dos passageiros da Soflusa. Vou, por isso, demonstrar-lhe a verdadeira estupidez que teve a distinta lata de dizer aos utentes da Soflusa.
Os moradores do Barreiro (e de parte do concelho da Moita) têm duas alternativas à Soflusa:
1ª Levar o carro todos os dias para Lisboa. Pode ser mais rápido, mas acredite, Sra. Administradora, não há muitos orçamentos familiares que suportem essa despesa. Diz-me a experiência de muitos anos que, no mínimo, são precisos 200€ a 250€/mês para combustível e portagens.
2ª Utilizar o comboio da Fertagus (vulgo o ‘comboio da ponte’). O passe da Fertagus a partir de Coina (a estação mais próxima do Barreiro) custa 108,15€, montante ao qual é preciso adicionar 32,20€ para o passe dos Transportes Coletivos do Barreiro (TCB) ou então entre 25€ a 30€ para o estacionamento na estação de Coina. Tudo somado são cerca de 140,00€/mês.
O passe combinado que engloba os TCB, a Soflusa e o Navegante em Lisboa (Carris, Metro e CP) custa 60,90€.
…
Sou forçada a concluir que Soflusa tem a vida muito facilitada: explora esta linha fluvial sem qualquer concorrência (não há outra empresa de transporte fluvial a explorar a mesma ligação) e sabe que os passageiros estão garantidos (qualquer uma das alternativas significa aumentar a despesa para mais do dobro).
...
Não é preciso esforço, não é Sra. Administradora? Por isso, podem dar-se ao luxo de gozar o prato com os utentes. Tou mesmo a ver a conversa nos corredores dos escritórios em LISBOA:
- Olha, temos aqui dois barcos que precisam de ir para a revisão, não vamos conseguir fazer todas as carreiras… como é que vai ser?
- Não te preocupes, não faz mal, pedimos aos passageiros para terem paciência durante uma semana, e deixarem de vir entre as 8 e as 9 da manhã e tudo se resolverá.
Sim. O Barreiro precisa muito de investimento em quase todas as áreas, mas vivemos tempos de dinheiro curto. As câmaras deste país estão sem dinheiro.
Mas ontem estive a ver o Boletim Informativo da Câmara do Barreiro e tive conhecimento deste projeto. São iniciativas destas que me fazem acreditar que, mesmo sem dinheiro, é possível fazer coisas bonitas e, desta forma, não custa tanto esperar pelo grande investimento.
Os primeiros resultados já estão à vista de todos:
A primeira imagem é um mural de autoria de Sérgio Odeith. É uma pintura de tributo a Augusto Cabrita, numa empena com 25 metros de altura.
Caso não conheçam, Augusto Cabrita é um filho da terra, foi um fotógrafo, diretor de fotografia e realizador cinematográfico português, autor de capas de discos de Amália Rodrigues, Simone de Oliveira, Carlos Paredes e Luiz Goes. A sua estreia no cinema foi como diretor de fotografia do filme Belarmino, que retrata a vida do desportista Belarmino Fragoso.
A empena de tributo situa-se na zona ribeirinha do Barreiro, na Avenida da Praia.
A segunda imagem é um mural de autoria de Ricardo «Tota».
O trabalho foi inspirado numa fotografia de 1950 da autoria de Norberto da Costa e Silva. A empena situa-se no prédio da Rua Stara Zagora, junto ao Pateo Albers.
Quando houver mais para mostrar, vou publicar aqui para poderem ver as coisas bonitas que se fazem na minha terra.