Só quem anda nos transportes públicos, me compreende! #24
Ouvido na sexta feira, num autocarro no Barreiro.
Senhora de pé, atrás do banco onde eu estava sentada, a falar ao telemóvel, naquele tom de voz que mais parece ter um megafone na boca:
"... estou... estou tia... olhe é só para lhe dizer que o meu pai acabou de morrer agora às sete horas... não sei... ainda não sei nada... a minha mãe foi agora lá para a misericórdia para saber mais notícias... não, não, por mim não havia nada disso, era à porta fechada e amanhã no cemitério e pronto... não há padres nem nada disso, que o meu pai não gostava, despachava-se tudo... pois, pois... olhe não tenho o numero da tia xxx... obrigada tia, se lhe puder telefonar... pois, pois, mas eu não sei mais nada, quando souber eu ligo-lhe... pronto tia, beijinho muito grande..."
Graças aos céus chegou a minha paragem.
Passei por ela ao sair do autocarro, lá estava agarrada ao telemóvel à procura de outro número... ía contar a outra tia ou prima qualquer...
Então esta criatura não podia esperar mais dez minutos para chegar a casa e ligar à família toda e comunicar a morte do SEU PAI?
Então esta criatira precisava de apregoar em pleno autocarro, em hora de ponta, que 'despachava' já tudo 'amanhã'?
Eu ainda me espanto com a falta de noção das pessoas, com a falta de decoro, de reserva da sua intimidade, da sua vida privada...