Só quem anda nos transportes públicos, me compreende! #20
Mais uma história bonita.
Quem utiliza o Metro de Lisboa conhece bem a ‘praga’ dos pedintes de esmola.
Às vezes, quando me apetece, dou esmola, mas tenho por princípio NUNCA dar esmola aqueles que aparecem com os acordeões, com o cãozinho sentado no ombro. Durante muito tempo eram utilizadas as crianças ao colo (sempre a dormir… como é que crianças tão pequenas passavam tantas horas a dormir?), agora são os cachorros, sentados no ombro do acordeonista com o copo preso na boca, horas a fio… Fico completamente passada. Só me apetece dar um par de tabefes naquelas criaturas e tirar-lhes o cão.
Há dias, logo pela manhã, entrou um pedinte na minha carruagem do Metro. Estava atrás do meu banco, por isso não o consegui ver logo, sou o ouvi: ‘bom dia, peço a vossa ajuda, vivemos os DOIS na rua, alguma ajuda para comermos [os dois]’
Pensei que se estava a referir a outra pessoa, companheiro ou companheira de infortúnio. Passou por mim e vejo que trás uma cadela pela trela. Uma cadela preta, enorme… linda.
Não pedia só para ele, pedia para os dois.
Dei-lhe uma esmola… mas fiquei a pensar, ‘deste-lhe dinheiro e, vai na volta, não é melhor que os acordeonistas…se calhar está também a usar o bicho para obter mais fundos’.
Depois assisti à mais linda das cenas: chegou ao fim da carruagem e o metro ainda não tinha chegado à paragem seguinte. Ficou ali de pé junto às portas. A cadela sentou de frente para ele com o olhar mais terno, mais doce que um animal pode dar ao seu dono. Um homem sujo, com um cabelo todo desgrenhado, quase sem dentes, mas pelo seu comportamento, viu-se que para aquele animal era o seu maior amigo, o seu companheiro.
Viu-se que estava a pedir festas. O homem baixou-se… ficou de joelhos, fez-lhe festas no pescoço e cocegas atrás das orelhas… disse-lhe um miminho qualquer e a bichinha esticou-se toda para lhe agradecer com uma lambidela na cara.
Todos os que estavam sentados nos bancos perto daquelas portas ficaram embevecidos a olhar para cena, com sorrisos…
Caramba! Quando uma pessoa fica reduzida à indigência, mas mesmo assim, consegue preocupar-se com o bem-estar de um animal, merece a nossa ajuda, não é?
Dei-lhe esmola e, já decidi, se o voltar a ver dar-lhe-ei esmola outra vez.