Seres vivos importantes para mim: Sr. Meu Pai e Sra. Minha Mãe
Lembro-me de ouvir o meu pai dizer que não se lembrava de ter tido dias felizes na sua infância. Só soube o que isso era, quando começou a trabalhar e a ser mais autónomo, a partir dos 14 anos.
A minha mãe era uma menina quando deixou a sua aldeia em Viseu e veio para Lisboa servir (como tantas outras meninas naquela altura!). Com 13 anos foi-lhe atribuida a responsabilidade de manter limpa e organizada uma casa com um sem número de quartos e salas e escritório e casas de banho.
A minha mãe foi madrinha de guerra do meu pai. Segundo consta nos relatos familiares, quando o meu pai viu uma fotografia da minha mãe ficou pelo beicinho e quis logo corresponder-se com ela. Acho que a minha mãe ainda guarda as cartas que recebeu do meu pai.
Quando no hospital a médica me disse “o Sr. Paulo faleceu”, era o meu pai que estava comigo. A médica disse-me que podia ficar mais um pouco naquela sala para me recompor, mas o meu pai agarrou-me firmemente pelo braço e, literalmente, arrastou-me para a rua: “Anda, vamos para casa, está lá a mãe.” Acho que foi o instinto protetor que falou mais alto. Não havia nada a fazer ali e só queria levar-me para ‘o ninho’.
O meu pai é portista ferrenho, o Paulo era benfiquista até à medula. Há uns tempos, já depois do Paulo ter partido, o Porto jogou contra uma equipa alemã e levou uma goleada muito feia. No dia seguinte estive em casa dos meus pais:
Pai: Ai Rita, cada vez que os alemães marcavam um golo só me lembrava ‘ai o meu genro ia gostar tanto de ver isto’. Se ele estivesse agora aqui contigo estava moer-me o juízo ‘então quer um alka seltzerzinho, ajuda muito na digestão’!
Dois dias antes de morrer o meu Paulo pediu há minha mãe para lhe arranjar a casa do botão de uns calções que ele adorava (metiam dó de tão velhos e gastos, mas ele não os largava por nada). Não se voltaram a ver. Já depois do funeral a minha mãe fez questão de os arranjar, lavar e passar a ferro:
Mãe: Foi a última coisa que ele me pediu e eu disse-lhe que fazia!
Não sei o que teria sido de mim sem os meus pais, neste último ano e meio.