Quinze anos
25 de agosto de 2001.O dia em que me casei com o Paulo. Faz hoje quinze anos.
Faz hoje um ano que, pela primeira vez, passei o meu aniversário de casamento sozinha. Ao contrário do que inicialmente esperava, até consegui passar o dia razoavelmente bem. Faz hoje um ano escrevi este texto no meu FB. Gostava que ficasse registado neste meu diário:
Hoje é um dia triste para mim, mas tu não gostavas de me ver triste, por isso, tenho andado a preparar-me, a relembrar aquele dia de 2001. Não me lembro de grande coisa, a camada de nervos era enorme. Estranhamente, desse dia só me lembro das peripécias que, na altura, me pareceram quase catástrofes (outra vez os nervos), mas que agora me fazem sorrir. São as memórias que guardarei para sempre com todo o carinho.
Querem saber como foi?
Enquadramento geral: a noiva mora no Barreiro, o noivo em Lisboa, decidem casar onde? Obviamente, em Sobral de Monte Agraço (sim aquela terra que “já tem um parque infantil”). A Conservadora não queria, mas lá aceitou fazer o casamento na Quinta, mas na condição de ser ao MEIO DIA. O noivo é pessoa pouco dada a cumprir horários, para ele o relógio é um mero adereço decorativo.
A noiva deita-se na véspera a pensar “só peço que corra tudo bem e a comida esteja boa”.
Cena 1: Cabeleireira. TRÊS horas para pentear e maquilhar. Dizia que era seu dever dar às noivas um ar de virgens puras. A julgar pelo tempo que demorou comigo, não quero nem pensar o que é que ela achou do meu ar!
Cena 2: Cheguei a casa já passava das 10h. Comecei a vestir-me sozinha, só depois chegou a minha mãe para me ajudar (NOTA PARA FUTURAS NOIVAS: não escolher cuecas de fio dental com pesponto rendilhado). Só muito mais tarde reparei que não pus desodorizante ou perfume, já foi uma sorte ter posto brincos.
Cena 3: Toca o telefone lá de casa, diz a minha mãe que o noivo quer falar comigo, ainda pensei “o meu amor ligou-me para dizer que me ama e vai correr tudo bem”.
Pois sim!
Estava um calor infernal nesse dia e às 11 horas a camisa do Paulo já estava encharcada em suor. Depois de algum rodeio, lá me pediu para lhe levar uma camisa lavada. Lembro-me de gaguejar “Mas as tuas camisas estão na NOSSA casa!” e ele com um risinho nervoso “Pois...eu sei, ahahah… ajuda-me”.
A minha expressão deve ter sido tal que a Sra. Minha Mãe (abençoada criatura), sentou-se ao meu lado e disse “Tem calma Rita, tudo se resolve.”
Cena 4: Sra. Minha Mãe resolveu. Sobrou para Sr. Meu Pai. Saem os convidados para a rua, falta sair a noiva, pelo braço do pai, como manda a tradição. Onde está o pai da noiva? Depois de alguma procura, foi encontrado já sentado ao volante, porque esqueceu-se de pôr combustível e agora ainda tinha que ir buscar a bendita da camisa antes de seguir para a Quinta. Sai a minha mãe de casa “Oh homem, tens que sair de casa com a tua filha, anda lá, vai buscar a miúda”. Lá vem Sr. Meu Pai a vestir o casaco, tira a noiva de casa, sorri para a foto da praxe e ala que se faz tarde.
Outras cenas que compuseram o dia:
O Melga a brincar com os “anéis” enquanto a Conservadora falava muito baixinho e eu a ver os “anéis” a rolar pela mesa.
O noivo a trocar de camisa e comentar “mas o teu pai tinha logo que escolher uma camisa branca? Agora pareço um empregado de mesa!” Respira Rita...
Ou quando o noivo, o homem do marisco, viu camarão, mas não viu os cascos de sapateira, expressamente pedidos. Sacrilégio!!! Havia mesas cheias de comida, havia de tudo, até houve churrasco, por amor da santa, mas faltavam as sapateiras. Por esta altura o pesponto das cuecas enfiadas no rabo já me tinha levado à loucura, por isso, respirei e relevei.
A cerimónia do corte do bolo e o Melga a irromper pelo meio dos convidados a gritar: “Paaai, os meninos estão a molhar os pés na piscina, eu também quero, deixas pai, deixas?
Meu querido Paulo, estivemos 13 anos juntos. Não foi sempre fácil, acho que nunca é. Bem vistas as coisas, foi como dizem os Xutos:
“Se gosto de ti, se gostas de mim, se isto não chega, tens o Mundo ao contrário”.
Para nós chegou.