Num poço...
Uma vez o meu Paulo contou-me que foi buscar o Melga a casa da ex-mulher, para o seu fim de semana. O Melga, era ainda muito pequeno, gostava muito de estar com o pai e ia sempre bem-disposto, mas naquele dia não estava com vontade de ir com o pai. Ambos tentaram forçar a situação e o Melga foi colocado no carro do pai. Chorou todo o caminho a dizer que queria a mãe. O Paulo parou o carro e disse-lhe ‘só vens com o pai quando quiseres, não és obrigado… ninguém te vai obrigar’. Deu meia volta e foi devolvê-lo à mãe.
Ainda não estava a meio caminho de casa, toca o telemóvel. Era a mãe do Melga… pedia-lhe que o voltasse para trás, para o ir buscar… o fim de semana passou sem incidentes, nunca mais o Melga disse que não queria ir com o pai.
Esta cena passou-se muito antes de eu conhecer o Paulo. Já depois de casados, o Melga já com uns 8 ou 9 anos, o Paulo estava a secar-lhe o cabelo, oiço esta pergunta: ‘oh pai… porque é que tu e a mãe não vivem na mesma casa?’ Apesar de ser uma criança feliz em nossa casa, de se sentir bem connosco, o Melga desejava aquilo que todas as crianças desejam… ter os pais juntos na mesma casa.
Porque são crianças e não entendem o mundo dos crescidos, não entendem porque se zangam os crescidos e são os pequenos que ficam com a vida virada do avesso para sempre.
…
A pessoa é contra a pena de morte… e acredita que os reclusos não devem ser tratados de forma degradante ou cruel…
A pessoa ouve familiares, no calor do momento, a defenderem a pena de morte e castigos cruéis e tenta defender que não nos podemos tornar nesse tipo de sociedade. A história ensinou-nos a defender princípios básicos de direitos humanos dos quais não devemos… não podemos abdicar…
Só que depois a pessoa ouve as notícias de ontem... e algo cá dentro abana…
É muito difícil ver imagens daquele 'pai' calmamente a fumar cigarros na rua, enquanto toda a vizinhança procura a sua filha... olhar para as fotografias daquela menina... e não querer atirar aqueles dois para dentro de um poço muito fundo onde fiquem só com a cabecinha fora de água e deixá-los lá a morrer devagarinho a olhar para uma luz pequenina 20 ou 30 metros acima…
Descansa em paz!