Nada como uma mãe para nos abrir a pestana
Depois de ver o meu Paulo morrer passei a estar muito mais atenta aos cuidados com a minha saúde. Tento levar isto sem exageros, mas, como em qualquer outra coisa na vida, quando se está a começar, volta e meia sou tentada a passar-me da marmita e acabo por fazer figuras tristes.
Isto tudo para vos contar o que me aconteceu a semana passada:
Como qualquer gaja quase a completar 45 anos, a arte de camuflar e disfarçar os sinais próprios da idade começa a impor-se no meu dia-a-dia. Não me queixo muito de rugas, não lhes ligo muito é certo, já o mesmo não posso dizer dos meus cabelos brancos. De há uns anos a esta parte, os meus cabelos brancos têm-se multiplicado à velocidade da luz, quais ervas daninhas, neste lindo canteiro que é a minha cabeça.
Fui agentando, até começar a temer a entrada no elevador do prédio onde trabalho.
Não sei se conhecem aquela sensação de entrar no elevador do local de trabalho, com um porradão de colegas, e, ao olharem-se ao espelho, verem um SEMÁFORO, um FAROL no topo da cabeça?
Como não gostava, comecei a pintar o cabelo com intervalos de 6 a 7 semanas.
Ora, mais recentemente, nos meus passeios pela net, conheci uma nova moda que passa por deixar a ‘escravatura’ de pintar o cabelo. Parece que há pior aí muita mulher que optou por assumir os seus cabelos grisalhos. Confesso que não me impressionou por aí além, até ter lido que a justificação passava, não só, mas também, por deixar de entupir o nosso corpo com produtos químicos.
Foi aqui que eu balancei. Eu que estou nesta fase de ter mais cuidado com a minha saúde, pareceu-me que fazia todo o sentido abandonar as tintas para o cabelo. De modos que, tendo pintado o cabelo, pela última vez, no início de agosto, decidi que ia tentar viver, em paz, com os meus cabelos brancos.
Comecei por combater a danação que sentia sempre que entrava no elevador do meu local de trabalho e via mil faróis e outros tantos semáforos no alto da minha cabeça. Não podendo fugir ao elevador, optei por ignorar o espelho do elevador, virando-lhe as costas.
A coisa até estava correr menos mal, mas... não contei com outro fator… a Sra. Minha Mãe.
Nos últimos 15 dias, sempre que ia jantar a casa dos meus pais reparava que a minha mãe olhava para a minha cabeça… disfarçadamente… não dizia nada, mas… olhava… e eu a fazer de conta que não reparava que ela olhava.
Até que a semana passada, não se contendo mais, ofereceu-se para me pintar o cabelo, ao que eu respondo:
- Ah e tal, … blá, blá, blá, reduzir os químicos em contacto com o corpo… assumir os cabelos brancos… e a escravatura de pintar o cabelo… o corpo é nosso… blá, blá, blá…
Ao que Sra. Minha Mãe me interrompe e com aquele ar que só uma mãe é capaz de ter, me diz:
Oh rapariga, deixa-te de coisas!
És muito nova para parecer velha!
Vai masé fazer essas raízes!
E pronto!
Fez-se luz, ou melhor... apaguei as luzes.
Exterminei os meus semáforos e faróis (eu sei que eles vão voltar, mas já estou à espera deles... deixei marcada nova pintura lá para meados de dezembro).
Oh pá! Uma mãe faz muita falta.
Quase 45 anos e ainda preciso que a minha me abra a pestana!