MEDO
Nos últimos dias, parece que cada post que escrevo é sobre a doença do meu gato. Até no último post, sobre um livro que acabei de ler, consegui falar na doença do bicho. No trabalho e nas reuniões familiares, já tenho medo de abrir a boca. Dou comigo a pensar… ‘para de falar no bicho, pareces a velha maluca dos gatos… se comeu… se fez cocó… credo, estás paranoica, mulher!’
É um facto que a doença do bichinho mexeu muito comigo.
Parece-me natural que a doença de um animal de estimação de tantos anos, mexa connosco, não é? Este bichinho está comigo há 12 anos e nos últimos 4 anos e meio é o único ser vivo que me espera em casa. O que não me pareceu normal foi a profundidade do transtorno que senti e tenho andado aqui a pensar, a matutar no porquê… porque é que dei comigo a chorar no caminho para casa? Porque é que andei as primeiras duas semanas do tratamento com o estômago sempre enrolado num nó que doía?
Acho que já percebi porquê…
MEDO.
Não que o bichinho morra. Pela ordem natural das coisas este bichinho vai morrer primeiro que eu, eu sei que vou ter que passar por esse luto, também… o meu medo é de vê-lo sofrer, o meu medo é de vê-lo morrer e não conseguir prestar-lhe o socorro devido… não perceber a tempo que pode ser algo mais grave e agir a tempo de lhe prestar socorro.
Sabem, o meu Paulo morreu de madrugada, só estávamos os dois em casa… ele caiu no chão no momento em que eu estava ao telefone a chamar o 112… já não fui a tempo… o médico tinha dito ‘gastroenterite viral’, afinal era um enfarte…
Durante o período de tratamento do meu gato, por duas vezes dei comigo de madrugada, a vigiá-lo, por ele estar a fazer reações adversas à medicação… a médica disse ‘isso é uma reação adversa… é esperar… passa com o tempo’... mas… e se não é...
Foi o medo que tomou conta de mim…
...
Pela primeira vez, desde que o meu Paulo morreu, senti-me tão sozinha.
Não sozinha… sozinha… eu sei que basta pegar num telefone e a ajuda dos meus pais e da minha irmã aparece sem hesitações…
Senti-me sozinha EM CASA… NA MINHA CASA. Foi a primeira vez que pensei ‘seria bom ter alguém com quem partilhar este tipo de situações'…