Levar com a hipocrisia das pessoas, logo de manhã cedinho!
Barco das 7h35. Metade da lotação, mais coisa, menos coisa.
Entra um homem que fica ao meu lado de pé no corredor a mexer em sacos e chaves e panos… ainda pensei ‘então, mas vais ficar aqui a viagem toda?!’
Vai para a frente do barco e começa a esticar uma toalha no chão. O senhor era muçulmano e preparava-se para fazer as suas orações matinais no caminho para o trabalho.
Começo a ver várias pessoas com ar muito incomodado, a levantar-se dos seus lugares na frente do barco e a fugirem para a parte de trás (foi uma fuga… em passo apressado!)
Fizeram queixa ao marinheiro, porque o senhor em causa tirou a máscara. Estavam muito preocupadas com este atentado à saúde pública.
A oração, no seu total, não demorou mais de 10 minutos, o senhor entrou no barco com máscara, preparou tudo com máscara e quando saiu tinha a máscara posta. Não sei se se esqueceu de a colocar quando iniciou a oração, se tinha a intenção de fazer a oração completa sem máscara, mas assim que o marinheiro o chamou a atenção, ele colocou a máscara.
Ato contínuo…
O barco reduz a velocidade para fazer a manobra de aproximação ao cais em Lisboa… as mesmas pessoas muito incomodadas com um homem que estava a rezar baixinho sem máscara, foram todas para a porta do barco a 20 cm uns dos outros. No mesmo barco que tem um aviso vermelho na parede a pedir aos passageiros que se mantenham sentados até o barco estar atracado, porque é a altura da viagem mais propensa a acidentes.
Claro está que o marinheiro não viu necessidade de chamar a atenção das pessoas para manterem o distanciamento social!
Ainda gostava de saber quantos passageiros iam naquele barco que alegremente tiraram a máscara para poder falar ao telemóvel, ou para poderem organizar os fios os fones, ou para colocar batom nos lábios…
Será que as dezenas de pessoas que sempre vi a tomar o pequeno almoço no barco o deixaram de fazer, para não tirarem a máscara?