Lá se vai a igualdade!
Na sexta-feira fomos as três (eu, Mana Querida e Sobrinha Mai’Linda) passear a Lisboa. Decidimos passar a manhã do feriado, ali pela Baixa e visitar alguns museus: fomos ao Lisbon Story Center e ao Museu do Dinheiro.
Depois conto-vos como foi. Agora queria contar-vos o que ouvi na viagem de barco, no regresso a casa. Ao meu lado estava sentada uma senhora que ia na conversa com as pessoas que estavam sentadas atrás dela, como não sou surda… ouvi a conversa. Resumidamente, ouvi frases como:
“… trabalhava na … fazia as limpezas… era uma vida santa… hora certa para entrar e sair… até dava para passar pelas brasas a seguir ao almoço…”
“… conheci o meu marido no culto… o meu marido não queria que continuasse a trabalhar… prefere que esteja dedicada aos filhos e à casa…”
“… todos lá do trabalho foram ao meu casamento… recebi prendas tão bonitas e bom dinheiro… até uma caixa em ouro eu recebi…”
“… entreguei tudo ao meu marido… para ele administrar…”
Cruzei-me com ela à saída do barco. Ia de mão dada com um dos filhos. Parecia feliz.
…
Isto faz-me tanta confusão…
Como é que, por um lado, temos campanhas de sensibilização para a igualdade de género, para a igualdade laboral e dos direitos e deveres da parentalidade e, por outro, ao abrigo de outro princípio que considero fundamental numa democracia, a liberdade religiosa, deixamos que se instalem no nosso país, cultos que pregam a subalternização da mulher face ao homem…
Aquela mulher pareceu-me feliz… talvez esteja realmente satisfeita com a escolha (?) que fez, embora não tenha deixado de notar uma certa tristeza no tom de voz quando disse “o meu marido não queria que continuasse a trabalhar…”
Não consigo deixar de pensar que este casal tem ou poderá vir a ter filhas… que serão educadas na mesma filosofia.
Quando penso que este tipo de cultos estão a nascer como cogumelos, em cada esquina das nossas cidades… será que todas elas pregam o mesmo, que o lugar da mulher é em casa a tratar dos filhos e sem poder para tomar decisões quanto aos rendimentos do casal?
Quando vemos aquelas reportagens sobre raparigas ciganas que são retiradas da escola pela família, porque o seu futuro é casar e ter filhos… será que, num futuro muito próximo, já não serão só as raparigas ciganas? Meninas a quem é dito que só precisam fazer a escolaridade obrigatória, porque é obrigatória, mas mais que isso não é preciso porque o lugar delas é em casa a tratar dos filhos?