Eu sei que vou levar muito na cabeça...
Mas vou dizer o penso... mesmo assim...
Sobre a senhora que quer ter um filho do marido que morreu. Não vi as reportagens... só sei o que fui lendo na diagonal nas redes sociais.
A minha opinião?
É não.
Desculpem, mas não consigo entender… simplesmente não consigo!
De repente vivemos numa sociedade em que tudo é normal!
Estamos a abrir demasiadas portas. O Cristiano quer ter filhos e como tem dinheiro, manda fazer no estrangeiro? É normal. Uma mulher sente-se só, vai a Espanha injetar-se com esperma de um doador? É normal. Quero ter um filho do meu marido, que já morreu… é normal!
E se fosse ela que tivesse morrido e deixado óvulos congelados… tínhamos uma petição para ele poder fecundar os óvulos e ter o direito a depositá-los numa barriga de aluguer? O que também seria normal… afinal é uma linda história de amor e ele também teria todo o direito a querer ter um filho dela, mesmo com ela morta... ou não?
Por muito que seja uma linda história de amor… o Estado não legisla para lindas histórias de amor, nem para casos específicos. O Estado legisla de forma geral, abrangente. Se a petição resultar numa alteração da lei em vigor, conseguem alcançar a porta que se pode estar a abrir… vamos ter o quê? Os casais a congelar semen e óvulos... não vá um deles morrer? Ou as expectativas dos casais que estão em processo de tratamento para a infertilidade são muito superiores às expectativas dos casais que também têm lindas histórias de amor, mas estão à espera do momento certo para engravidar ('este verão começamos a tentar...')?
E não me venham com a história que ela pode engravidar de um doador anónimo morto. As pessoas que recorrem a bancos de esperma procuram o anonimato e a garantia de que essa pessoa nunca vai aparecer ou ser encontrada. Se não fosse o anonimato simplesmente não existiam bancos de esperma, nem bancos de sangue, nem transplante de órgãos. As mulheres e homens que recorrem a bancos de esperma querem um progenitor que seja impossível de identificar… PONTO. Nenhum doador de esperma corre o risco de ter ‘filhos’ a bater-lhe à porta, ou à porta dos seus herdeiros.
…
Se há coisa que a minha viuvez me ensinou é que a morte é… DEFINITIVA.
Dói. Dói muito. Dias em que achei que ia enlouquecer. Dias de chorar ao ponto de não ter ar… agarrei-me a tanta coisa com medo de o deixar partir... peças de roupa encaixotada no roupeiro, a sua escova dos dentes no copo, o maço de tabaco que estava a fumar no parapeito da janela... mais de um ano...
Fica sempre muita coisa por dizer, por fazer, sonhos por concretizar, tanta vida por viver…
O luto da pessoa que se ama é uma luta titânica, mas não há volta a dar… temos que deixar partir os nossos mortos... quem fica tem que agarrar no que sobra, arranjar uma forma de lidar com a dor, sarar as feridas que ficam no peito e…
‘a vida continua’… continua sempre…