E depois do adeus...
Este fim-de-semana foi outra vez difícil. Voltei a chorar. Sei muito bem o que provocou esta queda. Uma coisa tão pequenina, tão simples, como ir a uma loja que era uma das ‘nossas’ lojas, onde eu nunca mais voltei a entrar.
Só que desta vez foi diferente. Comecei a chorar de tristeza, de dor, mas em pouco tempo dei comigo a sentir raiva:
‘Como foste capaz de fazer isto comigo? Foste embora e deixaste-me aqui sozinha, a passar por isto tudo, sozinha. Tanta vez que te disse para teres mais cuidado contigo e tu sempre a dizeres que sou uma exagerada!’
Falava alto em casa, olhava para as fotos dele e falava alto e chorava: ‘COMO FOSTE CAPAZ?’
No meio daquela loucura toda, olhei para um espelho e assustei-me.
Estava transfigurada. A cara inchada, vermelha, despenteada, um ar enraivecido. Não me reconheci e tive medo.
‘Oh mulher, o que estás a fazer? Estás a dar cabo da tua saúde. Nunca te zangaste a sério com ele enquanto foi vivo, vais-te zangar agora!?’
‘Não podes continuar nisto. Tens que fazer alguma coisa.’
Andei pela minha casa, passei por todas as divisões e apercebi-me que o Paulo e o Melga estão em todos os cantos. Está praticamente tudo no mesmo sítio. Objetos, fotos, tudo conta uma história, tudo tem recordações.
Apercebi-me que ando a evitar dar o passo que falta. Por muito que me custe, tenho que começar a deixar o meu Paulo para trás. E tomei a decisão mais difícil.
Vou dar uma volta completa na minha casa. Vai deixar de ser ‘a nossa casa’ e passar a ser ‘a minha casa’. Tenho medo de começar a sentir raiva do meu amor, por isso, prefiro guardá-lo num cantinho só meu, onde posso voltar sempre que quiser, sempre que sentir saudade.
Curiosamente tudo isto se passou no domingo, 24 de abril. Acho que foi a minha Revolução.
Não é por acaso que a senha da revolução de há 42 anos teve esta música como senha (letra aqui).
Mais uma das muitas 'coincidências' com que me deparei ao longo deste ano e meio.