Ano novo, vida nova! É assim, não é?
Primeiro dia do ano. Dia de decisões, resoluções, promessas.
Para mim, 2017 começou com uma grande decisão, aquela que há muito andava a atormentar-me.
Antes de me deitar tirei a minha aliança de casada.
Doeu muito tomar esta decisão, mas apercebi-me, há uns meses atrás, que tinha que ser como se tira um penso rápido, de repente, sem pensar muito.
...
Após a morte do meu Paulo, uma das coisas que mais me custou fazer foi dar destino às suas roupas. Lembro-me de uma colega de trabalho me ter aconselhado a não cometer o mesmo erro que ela cometera e deixar passar muito tempo – ‘trata disso o quanto antes, Rita. Acredita, quanto mais tempo passar, pior’.
Depois da minha médica me ter dado o mesmo conselho, três meses após o meu Paulo partir, pedi ajuda há minha mãe e, numa tarde, dei destino a todas as suas roupas, mas havia algumas peças, as preferidas do Paulo, das quais não consegui desfazer-me e, por isso, guardei-as numa caixa.
Há uns meses atrás, num daqueles meus acessos de limpeza, em que me dá para arrumar roupeiros (sim, sou maluca...), dei com a dita caixa e, depois de olhar um bocadinho para ela, achei que agora, passados dois anos, já conseguia desfazer-me daquelas roupas, afinal não fazia sentido manter aquilo tudo ali. Abri-a e comecei a retirar o seu conteúdo.
Foi como esfregar uma lâmpada mágica. O cheiro do meu Paulo invadiu todo o quarto – ‘ai Rita, que grande asneira que tu fizeste’. Ainda pensei em fechar e guardar tudo outra vez, mas... percebi que ou acabava com aquela caixa naquele momento ou nunca mais o ia conseguir fazer.
Lembrei-me desta história há umas semanas, quando uma amiga me contou que não consegue ir a casa da mãe. A mãe da minha amiga morreu há 5 anos e, nem ela, nem o pai têm coragem para retirar de casa, os bens pessoais da senhora:
- Eu tento Rita, mas abro uma gaveta e começo a mexer nas camisolas, começo a sentir o cheiro da minha mãe e não sou capaz. Fecho a gaveta e venho-me embora…
...
Percebi exatamente o que ela me queria dizer e percebi também que tinha que agir da mesma forma em relação há minha aliança.
Percebi que estava a agarra-me a objetos, coisas, simbolismos que, numa primeira fase até servem de consolo, mas que mais tarde ou mais cedo acabam por nos tolher os movimentos.
O meu Paulo não estava naquelas roupas e também não está na minha aliança.
O meu Paulo estará sempre e para sempre comigo. Algures num cantinho que criei só para ele, onde mais ninguém pode entrar e de onde o meu Paulo não pode sair.
Feliz Ano Novo!
Chorei muito para tomar esta decisão, mas quando tirei a aliança não chorei. Estava em paz comigo. Dormi toda a noite. Isso só pode querer dizer que tomei a decisão certa, na altura certa, não é?