A 'minha casa'
Ontem, a ‘nossa casa’ passou a ser, oficialmente, a 'minha casa’.
Fiz a escritura de partilhas com o Melga.
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Há precisamente 20 anos comprei a minha primeira casa. Tinha 26 anos e assumi o meu primeiro grande compromisso da vida adulta.
Fui lá várias vezes, durante o processo de compra (ainda estava em fase de acabamentos), sempre de porta aberta, claro. Lembro-me tão bem da primeira vez que meti a chave à porta e entrei na ‘minha casa’… soube-me tão bem… fechar a porta e pensar ‘agora quem quiser entrar tem que tocar à campainha da minha casa’.
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Ontem à noite voltei a meter a chave à porta da ‘minha casa’… fechei a porta da ‘minha casa’…
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E doeu tanto, chorei tanto…
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No primeiro serão que passámos nesta casa, lembro-me de dizer ao Paulo ‘esta será a casa onde vamos ficar velhos, só vamos sair daqui em duas situações: ou alguma coisa corre muito bem na nossa vida, ou muito mal’.
Sempre pensei que o 'muito mal’ seria não termos dinheiro para a pagar. Nunca me passou pela cabeça que o 'muito mal’ seria não ter o meu Paulo a envelhecer comigo lá dentro.
Não me quero precipitar. Já aprendi que quando me precipito faço asneiras de que mais tarde me arrependo. Vou dar tempo ao tempo, deixar a poeira voltar a assentar.
Ontem, pela primeira vez nestes cinco anos, senti que esta casa não foi comprada para ser a ‘minha casa’. Esta sempre foi a ‘nossa casa’.
Ontem, pela primeira vez nestes cinco anos, senti que talvez… talvez precise sair da 'nossa casa' e recomeçar noutro lado qualquer...