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Não sejas engraçadinha!

Como é costume dizer nestas lides "Este é um blog sobre tudo e sobre nada"

Não sejas engraçadinha!

Como é costume dizer nestas lides "Este é um blog sobre tudo e sobre nada"

Onde é que está provado que a um bom estudante corresponde um bom trabalhador!

Excerto do Comunicado do Conselho de Ministros da passada 6ª feira:

Na medida de valorização do grau de doutor, no caso da carreira geral de técnico superior, o ingresso na carreira passa a ser feito na 4.ª posição remuneratória, a que corresponde o valor de €1632,82 (ao invés dos 1268,04€ aprovados para a 2.ª posição remuneratória – aumento de 364,78€), e, de entre os trabalhadores já na carreira, posicionam-se todos os detentores de doutoramento na 4.ª posição remuneratória e, se já colocados naquela posição ou superior, passam à posição remuneratória imediatamente seguinte.

Como vocês sabem, já o disse aqui, sou funcionária pública. Faço 26 anos de carreira no próximo mês de setembro. Tenho cargo dirigente desde 2001, ou seja, já tenho nas costas uns bons 20 anos de avaliações a trabalhadores.

Desde 2004, ano da implementação do famoso SIADAP, que ciclicamente tenho que levar com as ensaboadelas sobre gestão estratégica, inovação, planeamento estratégico, liderança, inteligência emocional, cenários prospetivos e, o meu tema preferido, a gestão por objetivos e o reconhecimento do mérito e da excelência… queira ou não queira, seja ou não do meu interesse, a cada 3 anos tenho que fazer formação, com avaliação, num ou mais destes temas.

Para quem não conhece o SIADAP passo a explicar rapidamente: para cada trabalhador é definida uma ficha de objetivos. Do resultado da avaliação os trabalhadores podem ser classificados com Bom, Relevante ou Excelente (não vou tecer considerações sobre avaliações negativas). Apenas 20% dos trabalhadores podem ter Relevante e, destes, só 5% podem ter Excelente.

Um Bom corresponde a 1 ponto. Um Relevante corresponde a 2 pontos. Um Excelente corresponde a 3 pontos. O trabalhador pode progredir uma posição na carreira, quando acumula 10 pontos. O mesmo é dizer que 80% dos trabalhadores espera 10 anos para poder progredir uma posição na carreira (já ouvi histórias hilariantes de colegas, que leem muitos jornais e chegam convencidos das “regalias da função pública” e ficam assim meio esbranquiçados quando percebem que podem ficar 10 anos a ganhar 900€).

Nos tempos da Troika a classificação passou a ser bianual, o que quer dizer que um trabalhador que esperava 10 anos para progredir agora espera 11 ou 12 anos… como?

Imaginem o trabalhador que em 2020 tem 9 pontos. Precisa de mais um ponto para progredir. Inicia novo ciclo avaliativo para o biénio 2021-2022. A classificação deste biénio só será comunicada em 2023… o que é que acontece em 2023?

O trabalhador recebe os dois pontos do seu Bom para os anos de 2021 e 2022. Aproveita o ponto de 2021 para completar os 10 pontos para progredir (sem direito a retroativos desde janeiro de 2022) e o ponto de 2022 vai para um buraco negro que existe no Ministério das Finanças, porque a lei do SIADAP diz que só contam para nova progressão os pontos obtidos após a última progressão. Como progrediu em 2023 volta à estaca 0, o ponto de 2022 fica no pau da roupa!

Agora imaginem que estamos a falar de um trabalhador que até é daqueles que se bate para estar na tal quota dos 20% de relevantes e excelentes… pode perder até 5 pontos nesta brincadeira!

Digam lá se isto não é o pináculo do reconhecimento do mérito e da excelência!

E o que fazem os nossos sindicatos? Fazem fica pé para verem esta situação resolvida? (no mínimo que corrigissem a lei para que não se perderem pontos pelo caminho, bolas!)

Não! A solução encontrada é "Vamos premiar os estudantes". Então não é óbvio!

Portanto, eu, como avaliadora, sou obrigada a fazer formação nos temas que são definidos na legislação, não em temas que sejam efetivamente interessantes para a minha área de trabalho, posso chegar a um ponto em que tenho de um lado um trabalhador excecional, daqueles que resolve problemas, apresenta soluções, dá o litro todos os dias e a quem eu consigo dar um excelente; e do outro tenho um trabalhador sofrível, que é cumpridor e faz o que lhe compete, mas não mais do que isso, que adora estudar temas absurdos dos quais o meu serviço não vai retirar qualquer rendimento, e me comunica que vai fazer um doutoramento sobre “As 50 tonalidades de vermelho da casquinha do amendoim”… “The 50 shades of red of the peanut shell” no abstract em inglês… fica bonito, pá!

(sim! Vai acontecer o mesmo quando se alterou o regime do trabalhador-estudante e passou a ser possível estudar em regime diurno, foi um fartar vilanagem a fazer licenciaturas de 3 anos em qualquer coisa onde se entrasse, para conseguir ter um canudo que permitisse passar de assistente técnico para técnico superior).

Resumindo e concluindo:

O meu trabalhador excelente pode perder 5 pontos pelo caminho, o meu trabalhador bonzinho pode subir 3 posições na carreira! Com sorte ainda fica a ganhar mais do que o meu trabalhor excelente...

Arre f***-se!!!

(quando eu entrei na função publica, tinha uma colega que naquela altura devia ter os mesmo anos de serviço que eu tenho hoje. A Olga era ácida, amarga, revoltada e eu, com os meus 23 anos, só pensava que não queria ser como a Olga... passaram 26 anos... está cada vez mais dificil não ser como a Olga!)

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