Sobre a noite em Porto Côvo
Há muito anos, era eu uma adolescente, fizemos uma viagem em família. A ideia foi ir ao Porto visitar família paterna e, em vez de seguir direto para S. Pedro do Sul, passeámos um bocadinho pelo norte de Portugal, sem nada programado.
Lembro-me de Viana do Castelo, Póvoa do Varzim, Vila do Conde, Ponte da Barca, Gerês… lembro-me também que fomos dormir a Chaves. Estacionámos o carro (o nosso querido e muito estimado Fiat Uno 45S… uma máquina!) já o sol se estava a pôr e ainda tínhamos que procurar uma pensão, residencial, qualquer coisa com um ar minimamente decente para uma família descansar uma noite.
Acabámos numa Hospedaria. Um prédio muito velho, com chão em tábua de madeira que rangia a cada passo. Camas de corpo e meio do tempo da minha avó e os sanitários deviam ter sido muito modernos nos anos 40. Mas estava tudo muito limpo e isso era o que interessava.
Foi uma noite insuportável. Tanto calor. Quando regressámos do jantar reparámos que o quarto estava empestado de frango de churrasco. Cada vez que um de nós se virava na cama ou se levantava para beber água, acordava os outros todos, porque TUDO rangia. Era noite dos “Jogos Sem Fronteiras” (lembram-se?)… a equipa portuguesa que estava a jogar era de … CHAVES. Cada vez que ganhavam um jogo (e acho que ganharam quase todos…) só se ouviam gritos e buzinadelas…só houve sossego já de madrugada.
Estávamos nos finais dos anos 80… nunca pensei que em 2020 voltasse a passar por uma situação semelhante.
Em 2020 já não nos passa pela cabeça ir sem levar pelo menos as dormidas reservadas, e quando procuramos um quarto para dormir, há coisas que já tomamos por garantidas. Uma dessas coisas é o ar condicionado.
Quando me pedem 100€, por uma noite num quarto com casa de banho (não estou a falar num hotel, nem sequer num apartamento, estou a falar num quarto com casa de banho e serventia de cozinha comunitária), já acho difícil aceitar que a bagagem tenha que ficar toda espalhada no chão do quarto (o único suporte existente estava ocupado com COBERTORES... em julho), mas não consigo compreender que esse quarto não tenha um pequeno aparelho de ar condicionado, principalmente se estamos a falar de uma vila que VIVE do verão.
A sorte que nós tivemos em estar uma noite fresca…
(estava tudo muito limpo, as camas e almofadas eram confortáveis. Desta vez o quarto não cheirava a frango de churrasco… era um cheiro a choco frito…)