Há uns anos a minha mãe ouviu uma conversa de uma vizinha… estava muito preocupada porque a neta tinha entrado na faculdade e não sabiam como ia ser o trajeto, porque a pequena, aos 18 anos, nunca tinha posto os pés num autocarro.
Lá em casa, sempre utilizámos os transportes públicos. Nunca nos fez confusão, nem nunca percebemos a confusão que isso pode representar para algumas pessoas.
Ainda agora, com este novo trabalho da minha irmã, que fica numa zona de Lisboa muito pouco acessível (acho que nunca mais me vão ouvir dizer que a Expo fica no cú de judas, afinal a Portela de Sacavém consegue ser o cú de judas… atrás do sol posto), revirámos os sites das empresas de transportes públicos da área metropolitana de Lisboa à procura do trajeto mais rápido e foi graças a essa busca que encontrámos o tal autocarro direto à Gare do Oriente.
Por causa daquela conversa com a vizinha, a minha irmã fez questão de ensinar a minha sobrinha, desde muito cedo, a não temer os transportes públicos. Desde muito pequena e sempre que possível, vamos com ela, para todo o lado, no metro, no barco, de autocarro, no comboio (e sim… já tivemos reações incrédulas de algumas pessoas que não percebem porque não a levamos de carro…).
Queremos que ela perceba que o mundo não se faz só do conforto das viagens de carro para todo o lado. Queremos que ela perceba que não pode fazer a vida como se tivesse um motorista sempre às ordens, para ir levar e buscar (sim, eu sei… ainda vai chegar o dia em que vai querer ir à discoteca com as amigas e vir para casa às 6 da manhã… logo se vê, quando lá chegarmos…).
Hoje veio para Lisboa comigo e com os meus pais, para uma consulta no dentista. Com 11 anos a miúda já quase não se atrapalha. Com o seu passe pendurado ao pescoço, lá vai ela… fresca e fofa.
Estava sentada ao meu lado direito com a minha mãe. No meu lado esquerdo seguia um grupo de miúdas, estudantes universitárias, ainda muito novinhas, deviam ser caloiras, numa grande algazarra (parece que anda aí uma boys band coreana ou japonesa a deixar as miúdas enlouquecidas, sabem qual é?).
À saída do barco, disse ao ouvido da minha mãe:
‘olha ali… a tua neta daqui a 10 anos…’
…
Agora estou aqui a fazer contas de cabeça… já não faltam 10 anos…
Poupei 22€/mês. Não fui das mais beneficiadas, conheço utilizadores dos transportes públicos de Lisboa com poupanças perto dos 100€/mês. Para mim, mais do que a poupança, o que eu gosto mais neste novo sistema é a liberdade que dá ao utilizador.
Até março comprava um passe por cerca de 62€ que me obrigada a utilizar sempre o mesmo trajeto: autocarro tcb / barco Soflusa / metro ou autocarro Carris. Não podia fugir disto! Se houvesse uma greve dos barcos, podia ir no comboio da ponte, mas tinha que comprar os respetivos bilhetes.
Por isso, mesmo que se chegue à conclusão que os 40€ cobrados aos passageiros não chegam para cobrir a despesa, mesmo que cheguem à conclusão que é preciso pagar… sei lá… 50€, peço que nunca mais acabem com este sistema do passe único para todas as operadoras, porque é a única forma das pessoas terem alternativas nas suas deslocações.
Agora o reverso da medalha!
Se até março me era apenas permitido fazer um trajeto entre a minha casa e o trabalho, agora tenho TRÊS hipóteses. As outras duas hipóteses eram mais confortáveis, mas ficavam a perder porque eram muito mais caras do que os tais 62€… mas agora o preço é único… o conforto deixou de ter um preço a condizer.
Estou a utilizar um autocarro TST que vou apanhar ao Vale da Amoreira (é na Moita, mas muito encostadinho ao Barreiro), que me traz direta à Gare do Oriente. Entro na primeira paragem e saio na última… 50 minutos sentada a passar pelas brasas, na paz do senhor.
Não sou mais inteligente do que ninguém… houve mais pessoas a pensar da mesma maneira.
Resultado… o autocarro quando chega ao centro da Moita já não entra ninguém. Está uma final com umas 15 ou 20 pessoas e o motorista abre a porta e diz ‘só tenho dois lugares…’ e ainda tem que fazer Chão Duro e Sarilhos Grandes até entrar no acesso à Ponte Vasco da Gama. Uma sucessão de paragens com pessoas que ficam a olhar para o autocarro que passa.
Tem sido assim a semana toda. E as pessoas refilam com quem? Com o motorista... pois claro!
...
Eu compreendo que estamos numa fase de habituação. Compreendo que, com este novo sistema, seja mais confuso para quem gere empresas de transportes públicos. Afinal deixam de perceber quantos passes vendem e com isso deixam de ter a possibilidade de antecipar a quantidade de passageiros, mas…
Não seria de prever que ia ser assim? Não seria de prever que os passageiros iam começar a preferir os trajetos com menos transbordos? Não seria de prever que as carreiras que vêm da periferia diretas às grandes Gares de Lisboa, seriam as mais procuradas?
Oh senhores da TST… vocês que vivem há décadas de GERIR TRANSPORTES PÚBLICOS, não seria de prever tudo isto?
Que tal ajustar os horários da carreira 333 e, além das carreiras que começam no Vale da Amoreira, ter uma ou duas carreiras, por exempolo às 7:45 e às 8:15… a começar no centro da Moita?
Já nem vou falar na falta de ar condicionado… infelizmente esse mal é comum a todas as empresas de transportes públicos…
Podia vir aqui lamentar-me do dia de praia de m**** que tive ontem. Mais uma vez o S. Pedro traiu-me… deixou-me sair de casa numa manhã que prometia tanto, sem ponta de vento e quando chegámos à praia era só areia pelo ar…
Mas esta semana não é de lamentações.
A vida deu mais uma volta, pessoas. E, desta vez, uma volta boa.
Lembram-se quando contei que Mana Querida ficou sem trabalho? Foi no fim de janeiro…
Pois Mana Querida começa hoje um novo trabalho. E sabem uma coisa?
O novo trabalho de Mana Querida é mesmo aqui ao pé de mim. Ela tem que passar aqui na minha porta para ir para o trabalho dela.
Já estão a ver o que vai acontecer, não estão?
Muitas viagens de regresso a casa… JUNTAS. Muitos dias em que vamos combinar ‘hoje vamos um bocadinho mais tarde e passamos no Vasco da Gama para ver aquelas calças da Zara…’
Hoje já viemos juntas para Lisboa. Hoje a banda sonora da minha cabeça foi esta:
É como diz o grande Herman José: ‘a vida é como os interruptores de luz, umas vezes para cima, outras para baixo’.
Se em janeiro ficou para baixo, em maio ficou para cima.
Mais uma volta, mais uma corrida… só não vale baixar os braços!
Bom dia, pessoas queridas... bora trabalhar, porque nascemos pobres... mas lindas!
A propósito da história mais recente da banca em Portugal:
Querem cobrar comissões nas operações feitas pelos particulares nas caixas multibanco!
Portanto... primeiro substituem os trabalhadores pelas caixas multibanco. Despedem trabalhadores, encerram balcões... um fartar vilanagem.
Educaram os depositantes a tratar de tudo no netbanco ou nas ciaxas multibanco e aumentam comissões para tudo o que seja preciso fazer no balcão... porque menos trabalhadores e balcões... menos custos!
Oi, então... mas se as pessoas já quase não se deslocam ao balcão... como é que cobramos comissões?
Ahhh, pois... o melhor é cobrar comissões nas caixas multibanco, claro!
Nem vou falar nos milhões que já receberam, pagos pelos contribuintes, para não irem à falência.
Tenho para mim, que ainda vamos voltar a guardar o nosso dinheiro debaixo do colchão!