Com braços e pernas e cabeças a sair pelas janelas e pessoas sentadas no tejadilho?
Estão a ver?
...
Estão a ver o Metro de Lisboa?
... para ser igual aos comboios de Bombaim!
Duas vezes na mesma semana, tive que esperar uns vinte minutos pelo metro da linha azul, às 8 da manhã!
Demasiado calor humano é que tenho para vos dizer. Preciso desabafar, pessoas!
...
E quando se apanha o metro pelas 6 da tarde, cheio como um ovo, e aparece o ceguinho que teima em pedir esmola de uma ponta à outra da carruagem?
E quando ceguinho ainda refila porque as pessoas não se desviam?
E quando as pessoas se desviam, por caridade, e têm que ficar naquele espaço entre os bancos, praticamente ao colo de quem está sentado, com malas e sacos e o caraças?
Alguém que explique a estas criaturas que, mesmo que um ser caridoso queira dar uma moedinha é fisicamente impossível conseguir chegar à carteira que está no bolso ou na mala!
Então, confessem lá, qual seria a vossa resposta a esta pergunta:
Se pudessem comprar uma casa nova (a casa de sonho), o que é que essa casa tinha que ter?
…
Uma assoalhada só para roupeiros? Uma piscina? Uma casa de banho tipo spa? Uma sala a perder de vista para terem uma mesa grande o suficiente para toda a família e amigos? Um cinema? Uma garagem para os carros todos e mais as bicicletas dos miudos? Uma arrecadação, ou duas?
Aposto que foi o que pensaram.
Mas eu não. Para pensar isso, eu teria que ser uma pessoa normal… decididamente eu não sou normal e cada vez me capacito mais que tenho uma mentalidade de pobre.
Sabem qual foi o meu primeiro pensamento?
A primeira coisa que me veio à cabeça foi … uma LAVANDARIA.
...
Dou comigo a babar naqueles programas de renovação de casas sempre que mostram aquelas zonas só para tratar da roupa, AFASTADAS da cozinha.
Parece que lá pelas ‘estranjas’ é normal as casas terem lavandarias. Vocês, que tratam da vossa roupa, sabem porquê, não é?
Porque não há nada que faça mais PÓ do que tratar da roupa e pó e preparação de alimentos não combinam, pois não?
Pois não, mas os engenheiros e arquitetos tugas ainda não perceberam isso.
Eu até tenho uma cozinha grande. Dava, à vontade, para ter a máquina da roupa numa ponta e a zona de preparação da comida na outra ponta, mas não, o reles do construtor, para poupar nas canalizações, colocou a máquina da roupa precisamente entre o lava-loiças e o fogão, logo tenho que preparar a comida no bocado de bancada que fica por cima da máquina da roupa.
Camadão de nervos, pá! Sempre que estou a carregar a máquina, sonho com uma casa com um espaço assim…
Está decidido!
Se algum dia chegar a excêntrica quero uma casa com lavandaria (e, já agora, também quero a assoalhada só de roupeiros e piscina e spa e cinema e garagem e tudo e tudo, pronto!)
Ora, e o que seria o Natal (e aniversário) de uma gaja sem uns trapinhos novos para vestir?
Seria um Natal (e aniversário) muito triste, pois é?
Então vamos lá!
Categoria para hoje: Trapos
Podia ser 'Trapos em geral', mas depois isto ficava enfadonho, estava aqui até amanhã a postar imagens, por isso, fico-me pelos vestidos e camisas.
Da mesma forma, como sei que alguns dos potenciais interessados podem não ter a pedalada necessária para correr um centro comercial, fico-me apenas pela loja do costume (aquela com o nome que começa por z e acaba em a e no meio tem outro a e um r) que já é um mundo.
Ah, não esquecer que o tamanho é o L (que estes ombros não cabem em qualquer lado).
Comecei o dia com 25 minutos à espera na linha azul do metro e mais 15 minutos à espera na linha vermelha, mas o meu Sapinho sabe levantar a minha moral como ninguém.
A minha avó Deolinda era analfabeta. Nunca pôs os pés numa escola, porque o seu avô achava que se uma rapariga não fosse à escola não ia conseguir escrever cartas aos rapazes… e seria mais fácil de controlar… dahh!
A minha avó Deolinda tinha muita pena de não saber ler e escrever, mas ninguém a enganava num troco. Ouvia-a muitas vezes dizer: ‘uma pessoa não precisa de ir à escola para saber contar pelos dedos… 3 e 3, 6 e 3, 9 e 3, 12 e 3, 15 e segue por aí fora!’
Sei que ficou muito orgulhosa com a licenciatura das suas netas.
Foi a única pessoa que conheci que, efetivamente, trocava o B pelo V. A recordação mais querida que tenho dela era quando se punha a explicar qualquer coisa muito acaloradamente (a minha avó Deolinda tinha opinião sobre TUDO, ok!) e no final perguntava-me, com olhos arregalados:
‘PERCEVESTE?’
A minha avó Deolinda tinha um metro e meio de altura e tinha sempre muita pressa. Acho que até dormia com o relógio no pulso, tinha sempre muito que fazer, andava sempre a correr. Todos os domingos ia à missa e era sempre a primeira a sair da igreja.
Na casa da minha avó Deolinda havia sempre três coisas garantidas:
- Garrafas de Sumol: quando íamos almoçar a casa da avó Deolinda era uma alegria para mim e Mana Querida… só uma garrafa para cada uma, que Sra. Minha Mãe não permitia cá abusos!
- Frascos de doce e de geleia e taças de marmelada: a minha avó Deolinda fazia doce de qualquer tipo de fruta, experimentava tudo.
- O cão da minha avó, o Chico Escuro. O Chico era neto do Jaka (o outro cão da minha avó) e filho da Steka (que estava na casa do meu tio). Quando nasceu ficou destinado a ser entregue a um vizinho nosso a quem lhe tinha morrido um cão que viveu sempre preso a uma casota. O Chico era um cachorro pastor alemão, muito brincalhão. Quando percebemos qual era o seu destino, imaginámos o bichinho preso a uma casota no quintal e choramingámos: ‘não dês avó, não dês… ele vai ficar preso… na rua’ e a minha avó não deu. O Chico nunca teve sequer uma coleira, viveu sempre em casa, foi muito mimado e morreu velhinho.
A minha avó Deolinda era daquele tipo de mulher que achava que as lides domésticas eram tarefa das mulheres e uma mulher ‘como deve ser’ tinha a obrigação de saber manter uma casa organizada.
Um dia, já crescida, ofereci-me para lavar a loiça do almoço, mas disse ‘eu lavo a loiça’ não disse ‘eu arrumo a cozinha’. Enquanto lavava os pratos, a minha avó andou sempre a serandar, quase a guardar-me. No fim de tudo lavado, agarrei no pano e comecei a tirar as grelhas do fogão para o limpar e só aí ouvi uma exclamação de orgulho e aprovação da minha avó:
‘Muito bem. Eu sei que não preciso de me preocupar com vocês… estão bem entregues, têm quem vos ensine!’
A minha avó Deolinda tinha expressões muito próprias… muito dela. Sendo uma ‘mulher do Norte’, a maior parte dessas expressões não são para repetir, pelo menos aqui, mas há uma que me acompanha sempre, dizia-me muitas vezes:
‘Rita, tu nunca te atrapalhes, uma mulher nunca se atrapalha’.
E rematava:
‘Olha que uma mulher atrapalhada é pior, mas muito pior, que um polícia bêbado!’