Carta à minha prima Mafalda
A minha prima Mafalda anda a passar uma fase menos boa da vida… ou melhor, as suas crias andam a dar-lhe cabo do sistema nervoso.
Em breves palavras:
A miúda do meio, Leonor, sete anos, o ano passado começou o primeiro ano. Ainda choramingou, mas como a mana mais velha estava na mesma escola, a coisa lá se compôs. Iam as duas, vinham as duas…
Este ano a mana mais velha foi para outra escola (5º ano) e a boa da Leonor está a fazer este ano o que não fez o ano passado. Todos os dias lhe dói alguma coisa, a barriga, a perna, o braço, a orelha… O mais pequenino, Vicente, três anos, que até estava a levar a entrada na pré-primária, mais ou menos, vê a mana do meio a chorar e, claro, chora também… nem que seja por simpatia.
Há dias enviou-nos um vídeo: às seis da manhã (hora a que a se levanta para vir trabalhar) já estava com as duas mini-criaturas literalmente cravadas às pernas dela a chorar. Parecia que a mãe os ia enviar para as masmorras dum castelo no fim do mundo.
E prima Mafalda que sempre teve o lema de vida ‘sem stress’, stressou… e chorava também. A pessoa pode ser muito descontraída, mas tudo se complica infinitas vezes, quanto a questão é com os nossos pintainhos e se anda semanas a levar com cenas destas, não é?
A mais velha, Madalena, 10 anos, parece que não dá problemas de manhã. Levanta-se, veste-se e sai para escola (sempre a resmungar, claro, mas tendo em conta o resto do cenário, a coisa leva-se), mas no fim do dia, quando chega a casa, prima Mafalda tem que levar com o gosto musical da pequena que, por estes dias, passa por aqui:
Querida prima Mafalda,
Que dizer para te afagar a alma.
Quanto ao drama dos mais pequenos, não sei que te diga. Acho que te aguentaste muito mais do que eu aguentaria. Eu seria menina para meter férias ou baixa, enfiar-me num bibe com mochila às costas, amarrar o cabelo em dois totós e ir com eles para a escola. Mas isso sou eu!
Já a questão da mai’velha… caí na asneira de ouvir a Ludmilla (com dois ll's, coisa mais artística, pá!). Juro que até as unhinhas dos pés se me encaracolaram.
Acho que esta situação se resolve mais facilmente: posso oferecer-te uma caixinha de Vomidrine e uns tampões para os ouvidos, queres?
Muita força e muita serenidade para ti e para a Sra. Tua Mãe.
(Já pensaste sentá-los no sofá e ameaçar: ou vocês param com isto ou eu juro que daqui a trinta anos vou ser uma velha tão, mas tão chata que não vão ter sossego, pá!)