Podem chamar-me louca, não faz mal...
Eu decidi ter estas páginas para me ajudar a lidar com o que me vai na alma, neste processo de fazer o meu luto. Por isso, tenham paciência, está bem???
Este mês tenho andado mais sensível. Volta e meia as lágrimas assaltam-me. Este sábado à noite, já na cama, chorei outra vez muito...
Abril de 2018: o mês em que atingi o patamar muito sonhado pelos dois (a história do montante em divida do crédito à habitação, que vos contei no início do mês) e este fim de semana fez 11 anos que mudámos para a nossa casa nova. Estas coisas acabam por mexer comigo, mais do que gostaria. Posso parecer muito bem-disposta e sorridente, mas cá por dentro anda tudo num alvoroço…
Talvez por andar assim, há dias aconteceu-me uma coisa que não consigo explicar… até tenho medo de parecer meio alucinada. Se calhar desse lado vão começar a comentar “olha esta… não tomes as gotas, não!!!” Não faz mal, podem comentar…Foi muito estranho porque... nas semanas após a morte do meu Paulo, à noite, quando me deitava, eu pedia secretamente que isto acontecesse, pedia um 'sonho vivido', sabem o que é? Aqueles sonhos em que conseguimos SENTIR na pele... nunca aconteceu, nem uma vez, nem sequer parecido...
...
Estava no autocarro, a caminho de casa. Não me lembro do que pensava, não sei em que parte do percurso ia, não sei porquê… só sei que fechei os olhos e senti o meu Paulo. Sabem aquela sensação de sentir uma pessoa perto, sentir o cheiro… senti que ele me abraçava e o gesto dele quando me afastava o cabelo da testa e me dizia ‘tá bem…’ foi só uma fração de segundo, mas juro que ouvi a voz do meu Paulo no meu ouvido… nitidamente.
As saudades que eu tenho de ouvir a voz dele.
Fui o resto do caminho a chorar e passei os últimos dias meio tolinha, porque quero voltar a ter a mesma sensação, voltar a ouvir, e não consigo... Eu sei, eu sei que tenho que dar a volta a isto, que não me posso deixar impressionar por estas coisas. Vai na volta, apenas passei pelas brasas e tive um sonho vivido em pleno autocarro da Carris, foi só isso...
Ontem comecei o processo de 'dar a volta'. Vocês já sabem… quando preciso de dar a volta por cima, faço aquilo que nós dois mais gostávamos de fazer… deito mãos à minha casa e mudo alguma coisa. Desta vez foram as ‘perdigaitas’ que estavam a decorar a mesa de sala de jantar.
Já lhes andava a rezar pela pele há uns tempos.
Este domingo, tomei o pequeno almoço na varanda (o S. Pedro lá permitiu!) e quando passei para a cozinha, olhei outra vez para a mesa … “há 11 anos que estás assim… de hoje não passas”… e não passou.
Agora está assim… até me voltar a cansar!
Hoje terminei o processo de 'dar a volta'...em vez de continuar a matutar numa coisa que não faz sentido, deitei tudo cá para fora e escrevi estas linhas (e que bem que me fez!)