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Não sejas engraçadinha!

Como é costume dizer nestas lides "Este é um blog sobre tudo e sobre nada"

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O luto. Durante quanto tempo?

Quanto tempo temos direito a ficar de luto? É um post que li no blog Bla Bla Bla. Como é um tema que me está muito próximo, deixei um comentário e tenho andado a pensar nisto.

Quando perdemos alguém que nos é muito querido, quanto tempo temos ‘direito’ a chorar, quanto tempo temos o ‘dever’ de vestir preto. E recorrer a medicação, é normal, é aceitável? Durante quanto tempo?

Nas gerações mais antigas se uma mulher enviuvasse devia vestir preto durante três anos (acho!), independentemente da forma como se sentisse ou do facto de o marido ter sido uma besta que lhe infernizou a vida. Só depois podia começar a ‘aliviar’ o luto.

Bem vistas as coisas, desde tempos imemoriais, mais do que um processo de cura interior, o luto é visto como uma sucessão de convenções sociais que se prendem com a passagem do tempo. Por causa dessas convenções, ainda tão enraizadas, tive muitas vezes dúvidas sobre como devia proceder, como agir, como me comportar.

Quando o meu avô materno morreu, a minha mãe pôs luto durante alguns meses, mas não calçava meias pretas (não gosta!). Uma vizinha veio perguntar-lhe se estava de luto, porque apesar de vestir preto, não tinha meias pretas e por isso estava na dúvida. Nunca me esqueci desta história, de tal forma que, passados três ou quatro dias do funeral do Paulo, as únicas calças que tinha lavadas eram cinzentas muito clarinhas e tive que ligar há minha mãe para saber se achava bem vesti-las!

Nos primeiros meses só vesti cores escuras. Progressivamente comecei a vestir todas as cores. Só há uma cor que ainda hoje (quase dois anos passados) não consigo vestir, nem sei quando vou conseguir: vermelho. Já tentei, mas simplesmente não me sinto bem.

Quando comecei a trabalhar tive uma colega que, na altura, tinha a idade que eu tenho hoje e também era viúva. Lembro-me de contar que foi chamada de ‘viúva-alegre’ pelos vizinhos apenas porque um dia ao entrar no prédio, com uns amigos ou familiares, deu uma gargalhada. Chamem-me maluca mas não é suposto ser função dos amigos e familiares dar o ombro para chorar e fazer rir, nos tempos mais difíceis?

O primeiro ano é mesmo o mais complicado.

Porque temos as entranhas arrasadas por um furação e ficamos com a tarefa de arrumar tudo, mas em sítios diferentes, porque falta ali uma pessoa que é um pedaço de nós. Porque são as primeiras datas sem aquela pessoa: aniversários, festas. Porque a burocracia ataca impiedosamente, expressões que não queremos ouvir estão sempre à nossa volta: óbito, viúva, herdeiros, habilitação, causa de morte, relação de bens, património, história clínica.

Não aguentei a pressão e caí, apesar de ter uma estrutura familiar e colegas há minha volta que me apoiaram e souberam dar-me um ombro para chorar tantas vezes. Foram os primeiros a dizer para recorrer a ajuda médica.

Tudo isto para concluir que o luto não é uma questão de tempo. O luto é algo intimo que depende da estrutura de cada um, da capacidade de racionalizar e aceitar. O luto é solidão, faz-se nos momentos em que estamos sós. Aos outros, aos amigos e família, compete estar atento, presente e ausente consoante o que for preciso.

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