Espelho meu, espelho meu...
Estávamos em plena década de 80, era eu uma miúda.
Numa noite de verão, andava na rua a brincar às escondidas com os meus vizinhos todos (eramos tantos...'parecem bandos de pardais, à solta...').
Numa corrida mal calculada, tropecei no passeio e dei uma queda muito feia. Toda eu sangrava da cara e chorava a bom chorar.
Sra. Minha Mãe, que estava a ver a sua novela, reconhecendo o meu choro (uma mãe reconhece sempre o chora da sua cria, não é?) veio à porta ver o que se passava e, no meio do alarido todo que se formou, sempre muito calma, disse: 'Vá, anda já para dentro, temos que lavar e desinfetar isso...'
Não fomos só nós as duas a entrar em casa... grande parte das criaturas que brincavam comigo entraram também... era preciso ver o sangue, ver o que se passava... era um acontecimento...
Sra. Minha Mãe fez-me o curativo, na nossa casa-de-banho, rodeada de olhares muito curiosos e atentos.
...
No dia seguinte, lá apareci eu na rua, com aquilo a que se convencionou chamar 'um olho à beleneses', mas ... curiosamente, não era esse o tema dominante nas conversas entre as vizinhas da rua que costumavam estar à janela em amenas cavacaqueiras... não.
O tema dominante era .... o espelho redondo que Sra. Minha Mãe tinha na sua casa de banho: 'Ai vizinha, a minha filha disse-me que a vizinha tem um espelho redondo...'
...
Isto tudo para vos dizer que ando a pensar fazer obras na minha casa de banho (aquele revestimento a imitação de pastilha da cabine de duche anda a enlouquecer-me há anos)...
Tenho cá para mim que vou voltar a ter um espelho redondo na casa de banho.
Também quero fazer inveja às minhas vizinhas!
Sempre que vejo um espelho redondo numa casa de banho, lembro-me das minhas vizinhas.